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A DIABETES

A diabetes é um bom exemplo das doenças ligadas ao meio, tan­to a nível das causas desencadeantes, como da natureza dos danos e da sua evolução. Inclusivamente, o tratamento põe a nu a impor­tância do estado humoral e da higiene de vida no que respeita à evolução da doença.

A diabetes caracteriza-se por uma deficiência maior ou menor do pâncreas, que se encontra incapacitado de fabricar a insulina sufi­ciente, podendo até dar-se o caso de não produzir quantidade alguma desta hormona que condiciona a utilização do açúcar. Sem ela, a glicose contida no sangue não poderá penetrar nas células para ser utilizada e, assim, permanecerá no sangue, onde se acumulará de forma anormal.

Quanto mais elevada for a deficiência pancreática, ou seja, a ca­rência de insulina, mais grave é a doença. Portanto, a gravidade varia, consoante as pessoas.

Causas da diabetes

A explicação a que normalmente se recorre (a origem da manifes­tação da doença é uma predisposição hereditária) não responde à pergunta, apenas adia um pouco a resposta. Poderemos, com efeito, perguntar-nos por que os pais têm diabetes ou por que motivo mani­festam propensão para ela.

O processo de funcionamento do pâncreas permite-nos compreen­der como se pode originar a deficiência pancreática. A proporção de aminoácidos, minerais e vitaminas do sangue é controlada constante­mente pelos diversos órgãos responsáveis, com o propósito de que as células tenham permanentemente à sua disposição os nutrientes de que necessitam. Este controlo realiza-se para evitar tanto as carências como os excessos, ambos prejudiciais ao bom funcionamento do organismo. O sangue possui, pois, uma composição ideal que é a garantia de uma boa saúde.

A função do pâncreas é controlar a percentagem de açúcar sanguí­neo (ou glicemia), para evitar que se encontre em excesso.

Graças às secreções de insulina, o açúcar em excesso abandona o sangue e, ou penetra nas células musculares, para ser utilizado como carburante energético, ou nas células adiposas, para ser armazenado na forma de gordura, como prevenção para futuras necessidades energéticas.

Após refeições ricas em glúcidos, a glicemia eleva-se demasiado e o pâncreas deve intervir, segregando insulina. Quanto mais elevadas forem as quantidades de glicose que penetram no sangue, mais fortes serão as secreções de insulina necessárias para restabelecer um nível normal de glicemia.

Devemos precisar que a glicose é a forma sob a qual o corpo utiliza os glúcidos e que as diversas fontes dos açúcares proporcionados pelos alimentos (açúcares simples ou complexos, como o amido) se transformam em glicose, para se tornarem utilizáveis.

Outro facto importante: o pâncreas segrega insulina de diversas maneiras, consoante a origem da glicose que penetra no sangue:

– A glicose procedente da digestão da fruta praticamente não soli­cita a intervenção do pâncreas;

– A glicose procedente da digestão do amido das batatas e dos cereais passa ao sangue lentamente e solicita uma intervenção moderada do pâncreas;

– A glicose proveniente da digestão da sacarose industrial (açúcar refinado) passa rapidamente ao sangue e origina fortes secreções de insulina.

Quando se consomem regularmente alimentos que contêm açúcar refinado, como acontece actualmente, o pâncreas sente-se excessiva­mente solicitado. Obrigado a reagir de forma enérgica e rápida a cada refeição e, mesmo entre as refeições, devido aos aperitivos, obrigado a segregar (e portanto, também a produzir) grandes quantidades de insulina, o pâncreas acaba por se esgotar. Deixa de ser capaz de realizar o seu trabalho como lhe é solicitada. A debilidade pancreá­tica, e a deficiência que deste modo se adquire podem transmitir-se à descendência.

Os efeitos negativos deste tipo de alimentação não ficam por aqui.

Devido à sobrealimentação, a maioria dos diabéticos têm excesso de peso; o meio sobrecarrega-se dos resíduos procedentes dos múltiplos excessos em glúcidos, assim como de proteínas e lípidos. Logo, o pâncreas, como os demais órgãos, sofre essa obstrução, e o seu fun­cionamento vê-se prejudicado na devida proporção. Por outro lado, o terreno fica debilitado, uma vez que os alimentos directamente impli­cados (açúcares, guloseimas, pastéis, chocolates, etc.) são, precisa­mente, refinados e desnaturados. A função pancreática, privada das vitaminas e dos oligoelementos indispensáveis, fica, consequente­mente, perturbada.

As carências e as sobrecargas associam-se para tomar o campo pouco favorável ao funcionamento do organismo em geral e do pân­creas em particular.

Como acontece em todas as doenças, a importância da higiene de vida também desempenha um papel determinante na manifestação da diabetes.

Os transtornos do diabético são a expressão da contaminação humoral

Apesar de o açúcar ser um nutriente indispensável ao organismo, converte-se num veneno se estiver presente em quantidades exagera­das num lugar que não lhe é próprio (no sangue, mais que nas células).

Para além de todos os resíduos que normalmente se encontram num sangue sobrecarregado, o sangue de um diabético contém uma percentagem demasiado elevada de glicose, que actuará como veneno. Os primeiros a sofrer com esta situação serão os vasos sanguíneos e todos os órgãos que estão em contacto directo com o sangue, uma vez que, na diabetes, é precisamente no sangue que o açúcar se detém.

A alteração das paredes vasculares é, pois, típica desta doença.

Quando os vasos se rompem ou ficam obstruídos, perfila-se todo o cortejo de doenças cardiovasculares: angina de peito, enfarte do miocárdio, hemorragia cerebral, artrite dos membros inferiores ou gangrena.

A ruptura dos vasos ao nível dos olhos pode provocar a cegueira.

A irritação provocada pelas sobrecargas sanguíneas ao nível do órgão excretor cutâneo (os diabéticos transpiram açúcar) provoca eczemas, pruridos, furunculoses, etc. As articulações são, também, afectadas. Surgem nevralgias e, até, paralisias, quando os nervos são mal irriga­dos e quando os resíduos tóxicos criam traumatismos e lesões nos filamentos nervosos.

O corpo tenta desfazer-se do açúcar em excesso através dos rins.

Infelizmente, utilizados como válvula de segurança, acabarão por ceder perante o peso dos resíduos que agridem e destroem os seus tecidos, acabando eles próprios por adoecer. Esta é outra das graves compli­cações que os diabéticos têm que enfrentar.

Um campo tão desequilibrado é ideal para a multiplicação dos germes infecciosos, e, efectivamente, os diabéticos estão submetidos a múltiplas infecções.

A evolução dos transtornos descritos está em função da intensidade da deficiência pancreática, quer dizer, da intoxicação pelo açúcar ou, por outras palavras, do estado do meio. A adopção de um tratamento bem adaptado ocasiona-lhes um retrocesso, no caso de o grau das lesões não ser ainda irreversível. Por outro lado, os transtornos pioram a cada desordem da função pancreática, como ocorre com o abandono do regime alimentar, com o esgotamento provocado pelo cansaço excessivo ou com os choques emocionais.

Tratamento da diabetes

Para tentar compensar a falta de glicose a nível celular, o organismo desencadeia a autofagia dos seus tecidos gordos e das suas proteínas de constituição. Proteínas e gorduras podem ser transformadas em glicose. Quando a autofagia é importante, a degradação dos corpos gordos em glicose é mal realizada. As transformações que as gorduras sofrem para produzir a glicose detêm-se no estado ácido (acetona, ácidos cetónicos).

Os corpos cetónicos, ao acumularem-se no sangue, tornam-no ácido (acidose). As reservas minerais básicas, capazes de neutralizar os ácidos, esgotam-se, e o sangue torna-se, bruscamente, mais ácido. Este estado é muito perigoso, pois corresponde a um envenenamento do organismo por acetona (crise cetónica). Desta forma, o doente penetra num sono (coma diabético) que, sem cuidados enérgicos, pode ser mortal.

Desde a descoberta da insulina em 1925, os diabéticos deixaram de estar à mercê das crises cetónicas. A toma regular de insulina permite que o organismo utilize normalmente a glicose. Assim, este não se vê obrigado a originar crises de autofagia, com todos os perigos que estas encerram.

De imediato, poderá parecer que o tratamento dos diabéticos reside inteiramente na utilização da insulina. De facto, esta substância evita a morte do paciente, mas não o dispensa, antes pelo contrário, de uma reforma da sua higiene de vida. Por outro lado, esta higiene é muito rigorosa e indispensável. O regime alimentar do diabético foi estabe­lecido após numerosos ensaios e análises e deve ser escrupulosamente seguido, sob pena de recaídas ou de complicações. Para os diabéticos que não dependam da insulina, quer dizer, para aqueles cujas deficiên­cias pancreáticas não são de molde a necessitarem de tomar insulina, o problema coloca-se da mesma forma. O seu estado de saúde depen­de, igualmente, da observação rigorosa do regime alimentar a que se submeterem.

As refeições a horas certas, as quantidades exactamente doseadas dos alimentos, segundo a capacidade orgânica, a recusa de todos os alimentos desnaturados e a busca de uma vida o mais equilibrada possível, tanto física como emocionalmente, permitem aos diabéticos recuperar um equilíbrio do seu estado de saúde e viver com norma­lidade. Estas medidas nada têm de estranho; são as aconselhadas para sanear o terreno.

As carências e as sobrecargas associam-se para tor­nar o meio pouco favorável ao funcionamento do orga­nismo em geral e do pâncreas em particular.

Do livro Compreender as doenças Graves, de Christopher Vasey, Editorial Estampa Lda

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