
A Inocência
As crianças pequenas são inocentes; mas a inocência não é adquirida, é natural. Elas são, de facto, ignorantes, mas a sua ignorância é melhor do que a dita instrução, porque a pessoa que tem instrução limita-se a encobrir a ignorância com palavras, teorias, ideologias, dogmas e crenças. Tenta disfarçar a ignorância, mas, se arranharmos um pouco, não descobrimos lá dentro mais nada além de escuridão e ignorância.
A criança encontra-se num estado muito melhor do que a pessoa que tem instrução, pois pode ver coisas. Embora as crianças sejam ignorantes, são espontâneas; embora sejam ignorantes, fazem análises de enorme valor.
Um rapazinho que estava com um ataque de soluços exclamou:
– Mamã, estou a tossir para trás!
Um rapazinho foi levado pela mãe ao psiquiatra para ser examinado. A mãe era uma tagarela. O psiquiatra examinou o pequeno e ficou surpreendido por ele não prestar atenção às perguntas.
– Tens dificuldade em ouvir? – perguntou-lhe o psiquiatra.
– Não – respondeu o rapaz. – Tenho dificuldade em escutar.
Estão a ver a perspicácia? Ouvir e escutar são coisas completamente diferentes. A criança disse: “Tenho dificuldade em escutar, mas estou cansado de ouvir. È preciso ouvir – a mãe tagarela está presente – mas tenho dificuldade em escutar. Não consigo prestar atenção.” A mãe e o facto de ela ser uma tagarela destruiu algo de precioso na criança: a sua capacidade de atenção. O rapaz está aborrecidíssimo.
O professor do segundo ano mandou as crianças ao quadro para resolverem problemas de aritmética. Um rapazinho disse:
– Nã tenho giz.
– Não é assim que se diz – explicou o professor. – Diz-se: ‘Eu não tenho giz, tu não tens giz, nós não temos giz, eles não têm giz.’ Já percebeste?
– Não – disse o rapazinho – O que aconteceu ao giz todo?
O relógio tinha dado as três da manhã, quando a filha adolescente do ministro voltou de um baile. O ministro e a mulher estavam à espera da rapariga e, quando ela entrou, o pai disse-lhe em tom de sermão:
– Bom dia, filha do demónio.
Com uma voz doce, como qualquer criança, ela respondeu:
– Bom dia, pai.
A professora estava a tentar ensinar a subtracção.
– Muito bem, Hugh – disse ela -, se o teu pai ganhasse 180 dólares por semana e lhe deduzissem 6 dólares para o seguro, 10,80 dólares para a segurança social e 24 dólares para os impostos e ele desse metade à tua mãe, com o que é que ela ficava?
– Com um ataque de coração! – respondeu o miúdo.
A família tinha acabado de jantar. O pai e o filho de nove anos estavam na sala a ver televisão. A mãe e a filha estavam na cozinha a lavar a louça. De repente, o pai e o filho ouviram o barulho de qualquer coisa a partir-se na cozinha. Aguardaram um momento, na expectativa, mas não ouviram mais nada.
– Foi a mãe que partiu o prato – afirmou o rapaz.
– Como é que sabes? – perguntou o pai.
– Porque ela não disse nada! – respondeu o filho.
Vindo da cozinha, ouviram o barulho de vidro ou porcelana a partir-se.
– Willy – gritou a mãe da sala. – O que estás a fazer na cozinha?
– Nada – respondeu Willy. – Já está feito!
Um vendedor que trabalhava na região de New England ia ser transferido para a Califórnia. A mudança era o principal tema de conversa lá em casa há várias semanas. Até que, na noite da grande mudança, quando a filha de cinco anos estava a rezar, ela disse: “E agora, meu Deus, vou ter de me despedir para sempre, porque amanhã vamos viver para a Califórnia!”
Fonte:
Osho, O Livro da Criança – Uma Visão Revolucionária da Educação Infantil, Pergaminho, 2004