
Princípios básicos para cuidar de si mesmo
Aprenda a arte da aceitação
Estamos continuamente desequilibrados, lutando para aceitar mudanças e problemas. Não sabemos o que esperar, nem sabemos quando esperar.
Nossas circunstâncias estão sempre em estado de mudança. Podemos ter perdas ou mudanças em todas as áreas. Sentimo-nos loucos; nossos filhos estão aborrecidos; nosso cônjuge ou amante está agindo como louco; o carro foi retomado; ninguém trabalha há semanas; a casa está uma bagunça; o dinheiro acabou. As perdas podem despencar sobre nós de uma só vez ou podem ocorrer gradualmente. As coisas poderão estabilizar-se por um curto período, até que mais uma vez percamos o carro, o emprego, a casa, o dinheiro e as amizades de pessoas queridas. Ousamos ter tido esperanças, somente para ter nossos sonhos esmagados de novo.
Não importa que nossas esperanças tenham sido falsamente baseadas em desejos irreais de que o problema desaparecesse magicamente. Esperanças esmagadas são esperanças esmagadas. Decepções são decepções. Sonhos perdidos são sonhos perdidos, e todos eles trazem dor.
Aceitar a realidade? Como, se na metade do tempo nem mesmo sabemos o que é realidade? Mentimos para os outros; mentimos para nós mesmos, e nossa cabeça está rodopiando. Na outra metade do tempo, enfrentar a realidade é simplesmente mais do que podemos suportar, mais do que qualquer um pode suportar. Por que deve ser tão misterioso que a negação seja uma parte integral do alcoolismo ou de algum problema sério que causa perdas contínuas? Temos coisas demais para aceitar; nossa situação é esmagadora. Quase sempre estamos tão envolvidos em crises e caos, tentando resolver os problemas de outros, que nos ocupamos demais para nos preocupar em aceitar qualquer outra coisa.
Mesmo assim, às vezes devemos enfrentar o que é. Para que as coisas possam mudar, devemos aceitar a realidade. Para que algum dia consigamos substituir nossos sonhos perdidos por novos sonhos e nos sentir sãos e em paz de novo, devemos aceitar a realidade.
Por favor, entenda que aceitação não significa adaptação. Não significa resignação à maneira triste e miserável como as coisas são. Não significa aceitar ou tolerar nenhum tipo de abuso. Significa, no momento presente, receber e aceitar nossas circunstâncias, incluindo a nós mesmos e as pessoas em nossas vidas, do jeito que somos e como elas são. Somente a partir desse ponto teremos a paz e a capacidade de avaliar a situação presente, efetuar mudanças apropriadas e resolver nossos problemas. Quem é vítima de abuso não tomará as decisões necessárias para parar esse abuso até que o reconheça como tal. Quando o fizer, deve parar de fingir que o abuso terminará magicamente, parar de fingir que ele não existe ou parar de pedir desculpas por sua existência.
Num estado de aceitação, somos capazes de responder responsavelmente ao nosso ambiente. Nesse estado, recebemos o poder de mudar as coisas que podemos. Os alcoólicos não podem deixar de beber até que aceitem sua impotência sobre o álcool, sobre seu alcoolismo. As pessoas com distúrbios alimentares não podem resolver seus problemas com a comida até que aceitem sua impotência sobre ela. Nós codependentes não podemos mudar enquanto não aceitarmos nossas características codependentes – nossa impotência sobre as pessoas, sobre o alcoolismo e sobre outras circunstâncias que temos tão desesperadamente tentado controlar.
A aceitação é o paradoxo definitivo: não podemos mudar quem somos até que nos aceitemos do jeito que somos.
Aqui está um trecho de Honoring the Self [Honrando o Self] sobre autoaceitação:
…Se eu puder aceitar quem sou, o que sinto, as coisas que fiz – se aceitar isso gostando ou não de tudo –, então posso aceitar a mim mesmo. Posso aceitar minhas falhas, minhas dúvidas, a falta de autoestima. E quando aceitar isso tudo, colocar-me-ei de frente para a realidade em vez de relutar em aceitá-la. Não estou mais revirando minha consciência para manter as desilusões sobre minha situação atual. E, assim, limpo a estrada para os primeiros passos do fortalecimento de minha autoestima… Enquanto não pudermos aceitar o fato de que estamos em algum determinado momento de nossa existência, enquanto não conseguirmos permitir a nós mesmos estar totalmente conscientes da natureza de nossas escolhas e ações, enquanto não pudermos admitir a verdade em nossa consciência, não conseguiremos mudar.5
Pela minha experiência, também acredito que meu Poder Superior parece relutante em intervir em minha situação até que eu aceite o que Ele já me deu. Essa aceitação não é para sempre. É somente para o presente momento. Mas deve ser sincera e vir de dentro. Como podemos conquistar esse estado de paz? Como podemos encarar toda essa realidade sem piscar os olhos, ou sem cobri-los? Como podemos aceitar todas as perdas, as mudanças e os problemas que a vida e as pessoas arremessam sobre nós? Não sem gritar e espernear um pouco. Aceitamos tudo através de um processo de cinco passos.
Elisabeth Kübler-Ross foi quem primeiro identificou os estágios e esse processo como a forma com que as pessoas desenganadas aceitam a morte, a perda definitiva.6 Ela chamou isso de processo de tristeza. Desde então, os profissionais de saúde mental têm observado as pessoas atravessarem esses estágios sempre que enfrentam qualquer perda. Pode ser uma perda pequena – uma nota de cinco dólares, não receber uma carta esperada – ou pode ser significante – a perda de um cônjuge por divórcio ou por morte, ou a perda de um emprego. Até as mudanças positivas trazem perda – quando compramos uma nova casa e nos mudamos da antiga – e exigem uma progressão através dos cinco estágios seguintes:7
- negação
- raiva
- negociação
- depressão
- aceitação
Continuação no próximo artigo.
Do livro: Codependência Nunca Mais, Pare de Controlar os Outros e Cuide de Você Mesmo, [recurso eletrônico] Melody Beattie, 5ª Edição, Viva Livros, 2017