
As Qualidades da Criança
A experiência da infância persegue as pessoas inteligentes ao longo das suas vidas. Elas têm o desejo de a recuperar – a mesma inocência, o mesmo deslumbramento, a mesma beleza. Não se trata de um eco distante; é como se a tivéssemos visto num sonho.
No entanto, toda a religião nasceu da experiência avassaladora do deslumbramento, da verdade, da beleza, da vida infantil em toda a sua envolvência. No canto das aves, nas cores do arco-íris, no aroma das flores, a criança continua a recordar no fundo do seu ser que perdeu um paraíso.
Não é por coincidência que todas as religiões do mundo retêm em parábolas a ideia de que o Homem viveu em tempos no paraíso e, por qualquer motivo, foi expulso de lá. São diferentes histórias, diferentes parábolas, que significam uma mesma e simples verdade: são um modo poético de dizer que todo o ser humano nasceu no paraíso e depois o perdeu. Os atrasados mentais, os imbecis, esquecem-no por completo.
Mas os seres inteligentes, sensíveis e criativos continuam a ser perseguidos pelo paraíso que conheceram em tempos e de que agora apenas têm uma ténue recordação inacreditável. E começam a procurá-lo de novo.
A procura do paraíso é a procura da nossa infância. É claro que o nosso corpo já não é de criança, mas a nossa consciência ativa pode ser tão pura como a consciência ativa da criança.
É este o segredo do caminho místico: tornarmo-nos de novo crianças, inocentes, não poluídos por qualquer conhecimento, sem saber nada, sempre atentos a tudo o que nos rodeia, com um profundo encanto e a sensação de um mistério impossível de desmistificar.
Fonte:
Osho, O Livro da Criança – Uma Visão Revolucionária da Educação Infantil, Pergaminho, 2004