Princípios básicos para cuidar de si mesmo
Comunicação
Quando estiver fazendo o que é certo para
você, simplesmente diga isso uma vez, depois
recuse-se a discutir mais o assunto.1
– Toby Rice Drews
Leia os diálogos que se seguem. Talvez você se identifique com o diálogo (em negrito), e as interpretações (em itálico), que explicam as intenções e os padrões de pensamento dos codependentes.
Danielle vai telefonar para Stacy. Danielle quer que Stacy tome conta de seus três filhos no fim de semana, mas não pretende pedir-lhe isso; pretende manipular Stacy para fazer isso. Preste atenção à sua técnica.
Stacy: Alô.
Danielle: Oi (resmungando). Suspiro. O suspiro significa: “Pobre de mim. Sou tão infeliz. Pergunte o que há comigo. Ajude-me.”
Stacy: (Depois de uma longa pausa.) Oh, oi, Danielle. Que bom que você ligou. Como vai? Durante a longa pausa, Stacy pensou: “Oh, não. Ela de novo. Suspirando e gemendo de novo. O que será que quer agora?”
Danielle: Suspiro. Suspiro. Estou como sempre. Problemas, você sabe. O que Danielle está dizendo é: Ande, pergunte o que está acontecendo.
Stacy: (depois de uma longa pausa). O que houve? Que voz horrível. Durante a longa pausa, desta vez Stacy pensou: “Não vou perguntar o que está acontecendo. Não vou me amarrar. Recuso-me a perguntar-lhe o que está acontecendo.” Ao pensar isso, Stacy ficou com raiva, depois se sentiu culpada e acabou perguntando a Danielle o que estava acontecendo.
Danielle: Bem, meu marido acabou de me dizer que tem de viajar a trabalho neste fim de semana e pediu que eu fosse com ele. Adoraria ir com ele. Você sabe que nunca vou a lugar nenhum. Mas não sei quem poderia ficar com as crianças. Eu detestaria recusar, mas tive de dizer não a ele. Ele está tão chateado! Espero que não fique com raiva de mim. Bem, o que se pode fazer, é assim que as coisas são. Suspiro. Suspiro. Danielle está jogando pesado. Ela quer que Stacy se sinta culpada, com pena dela e de seu marido. Suas palavras foram cuidadosamente escolhidas. Obviamente, Danielle disse ao marido que poderia ir. Disse a ele que iria conseguir que Stacy ficasse com as crianças.
Stacy: (Pausa bem longa.) Bem, talvez eu possa fazer algo para ajudá-la. Durante a pausa desta vez, Stacy pensou: “Oh, não. Não, não, não. Odeio tomar conta dos filhos dela. Ela nunca fica com os meus. Não quero. Não farei isso. A danada sempre me coloca nessa situação. Droga. Mas como posso dizer não? Devo ajudar as pessoas. E ela precisa tanto de mim. Deus, não quero que ela fique com raiva de mim. Além disso, se não a ajudar, quem a ajudará? A vida dela é tão chata. Mas será a última vez. A última vez mesmo.” Seus sentimentos eram de raiva, piedade, culpa, bondade, e de volta à raiva. Note como ela diminuiu Danielle, chamando-a de impotente; note seu grandioso sentimento de responsabilidade: “Sou a única pessoa no mundo que pode ajudá-la.” Note também como ela formulou sua resposta. Estava esperando que Danielle notasse sua falta de entusiasmo e a resgatasse dizendo para ela esquecer tudo.
Danielle: Poderia mesmo ficar com as crianças? Muito obrigada. Você é ótima. Nunca imaginei que você realmente faria isso por mim. “Ah, ah! Consegui o que queria.”
Stacy: Tudo bem. Estou feliz em ajudar. “Não quero fazer isso. Por que isso sempre acontece comigo?”
Na próxima conversa, Robert quer que sua mulher, Sally, telefone para o chefe dele e diga que ele está doente. Robert bebeu até as 3 horas da madrugada. Seu alcoolismo está causando cada vez mais problemas em casa e no trabalho. Durante a conversa ele se sente doente, com raiva, culpado e desesperado. Sally se sente da mesma maneira.
Robert: Bom dia, querida. Como está hoje, meu doce de coco? “Deus me ajude, me sinto horrível. Não posso trabalhar. Ela está com raiva. Não posso enfrentar o chefe. É melhor convencê-la a telefonar para mim, depois volto para a cama. Melhor ainda, preciso de outro drinque. Rápido.”
Sally: Estou muito bem. (Com uma voz de mártir, entrecortada, depois de um olhar frio e fuzilante e um longo silêncio.) O que Sally quer dizer: “Estou magoada. Estou com raiva. Como pode fazer isso comigo? Você estava bebendo na noite passada. Prometeu que não iria mais fazer isso. Nossas vidas estão se despedaçando, e você não se importa. Olhe só para você: está um trapo. Não aguento mais isso!”
Robert: Querida, estou me sentindo tão mal hoje. Devo estar com um resfriado. Não consigo nem tomar café. Ligue para meu chefe, está bem? Diga a ele que irei amanhã se me sentir melhor. Pode fazer isso para seu queridão? Vamos lá. Seja boazinha. Estou me sentindo tão mal! “Estou precisando de você. Cuide de mim, e faça isso agora. Sei que está com raiva, então tentarei fazer com que sinta pena de mim.”
Sally: Realmente, não acho que deva ligar para seu chefe. Ele gosta de falar com você quando você não vai. Ele sempre pergunta várias coisas que não sei responder. Não acha que seria melhor se você ligasse? Afinal de contas, você sabe o que dizer. “Odeio ligar para o chefe dele. Odeio mentir para ele. Mas, se disser não, ele ficará com raiva. Tentarei parecer mais fraca do que ele.”
Robert: O que há com você? Não pode fazer uma coisinha para mim? Você é tão egoísta assim? Sei que está com raiva de mim. Você está sempre com raiva de mim. Não é à toa que bebo, com uma mulher como você. Tudo bem. Não ligue. Mas, se eu perder o emprego, a culpa é sua. Ele pensa: “Como ousa recusar?” Depois decide que é hora de ser durão. Vai fazer com que ela faça o que ele quer. Decide jogar grande parte de culpa nela, depois terminar com um pouco de medo. Ele sabe que ela tem medo de que ele perca o emprego. Fazendo isso, ele prepara o terreno para beber hoje.
Sally: Tudo bem. Vou telefonar. Mas não me peça nunca mais para fazer isso. E, se você beber mais uma vez, vou deixá-lo. Sentindo-se numa armadilha, Sally liga para o chefe de Bob. Robert fez tudo direitinho. Pegou Sally em todos seus pontos fracos. Ela está com medo de ser chamada de egoísta porque pensa que é horrível ser egoísta; sente-se culpada porque sabe que está com raiva o tempo todo; sente-se responsável pela bebida de Robert; e tem medo que ele perca o emprego. Esse negócio de deixá-lo se ele beber de novo é uma ameaça vazia; ela não tomou nenhuma decisão de deixar Robert. E, da próxima vez que o marido pedir, ela irá ligar para o chefe dele de novo. Depois de dar o telefonema, ela vai ficar com raiva de Robert e vai persegui-lo. Então, terminará sentindo-se vítima e com pena de si mesma. Ela também continua a sentir-se extremamente culpada, alimentando a ideia de que há algo errado com ela por todos seus sentimentos e reações, porque Robert parece tão poderoso e ela se sente tão fraca e insegura.
No diálogo seguinte, um terapeuta está conversando com um alcoólico e sua esposa num grupo de terapia familiar. O casal parece perfeito. Não é a primeira vez que eles frequentam esse grupo, mas é a primeira vez que o terapeuta se concentra neles.
Terapeuta: Steven e Joanne, estou feliz por estarem aqui esta noite. Como vão vocês?
Steven: Estamos ótimos. Excelentes. Não é, Joanne?
Joanne: (sorrindo) Sim. Está tudo bem (riso nervoso).
Terapeuta: Joanne, você está rindo, mas sinto que há algo errado. Aqui você pode falar. Pode falar sobre seus sentimentos e sobre seus problemas. É para isso que este grupo está reunido aqui. O que há por baixo desse sorriso?
Joanne: (seu sorriso desaparece e ela começa a chorar.) Estou tão cansada de tudo. Estou cansada de apanhar dele. Estou cansada de sentir medo dele. Estou cansada das mentiras. Estou cansada das promessas que nunca são mantidas. E estou cansada de ser envergonhada por aí.
Continuação no próximo artigo.
Do livro: Codependência Nunca Mais, Pare de Controlar os Outros e Cuide de Você Mesmo, [recurso eletrônico] Melody Beattie, 5ª Edição, Viva Livros, 2017