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Princípios básicos para cuidar de si mesmo

Des-dependência

A segurança emocional e nosso nível de insegurança são fatores importantes que devemos manter em mente ao tomarmos nossas decisões.
Às vezes, nos tornamos financeira e emocionalmente dependentes de alguém, e então temos de enfrentar essas preocupações reais – duas preocupações que podem ou não estar relacionadas entre si.7 As duas devem
ser levadas a sério; cada uma exige consideração. Minhas palavras ou nossas esperanças não modificarão a realidade. Se somos financeira ou emocionalmente dependentes, isso é um fato, e os fatos devem ser aceitos e levados em consideração. Mas acredito que podemos nos empenhar em tornarmos menos dependentes. E sei que podemos nos tornar independentes, se quisermos.
Aqui vão algumas ideias que podem ajudar:

1.Termine com os assuntos de sua infância o melhor que puder. Chore. Coloque alguma perspectiva. Verifique de que forma os acontecimentos da infância estão afetando o que faz agora.

Uma cliente que teve relacionamentos amorosos com dois alcoólicos contou-me a história que se segue: o pai dela abandonou-a quando ela tinha 5 anos. Ele estivera quase sempre bêbado durante todo o tempo que passou com ela. Embora vivessem na mesma cidade, ela raramente viu o pai depois que ele se mudou. Ele a visitou algumas vezes depois do divórcio, mas não havia consistência no relacionamento deles. À medida que crescia, ela telefonava para o pai de tempos em tempos para contar-lhe as coisas importantes de sua vida: a formatura do ginásio, o casamento, o nascimento do primeiro filho, o divórcio, o segundo casamento, a segunda gravidez.

Cada vez que ligava, conversavam durante uns cinco minutos, nos quais ele prometia vê-la em breve; e desligavam. Ela disse que não sentia mágoa ou raiva; esperava isso dele. Ele nunca tinha estado presente. E nunca estaria. Não participava do relacionamento. Não havia nada, nem mesmo amor, vindo dele. Isso era um fato da vida e não a aborrecia muito. Ela realmente achava que se resignara e lidara com o alcoolismo do pai. Esse relacionamento continuou durante anos. Os relacionamentos dela com alcoólicos continuaram durante anos.

 

Uma noite, quando estava no meio de seu mais recente divórcio, o telefone tocou. Era o pai. Era a primeira vez que ele lhe telefonava. Seu coração quase pulou para fora do peito, contou ela mais tarde. Ele perguntou como ela e sua família estavam – uma pergunta que geralmente evitava. Enquanto pensava se deveria contar a ele sobre o divórcio (algo que ela queria fazer; sempre desejara chorar e ser confortada pelo pai), ele começou a resmungar sobre como tinha sido trancado num hospital psiquiátrico, que não tinha direitos, que isso não era justo; será que ela poderia fazer algo para ajudá-lo? Ela rapidamente encerrou a conversa, desligou o telefone, sentou-se no chão, chorou e gritou.

– Lembro-me de sentar no chão e gritar: “Você nunca esteve presente para mim. Nunca. E eu agora preciso de você. Me permiti precisar de você uma só vez e você não estava presente para mim. Em vez disso, queria que eu tomasse conta de você.” Quando parei de chorar, senti-me estranhamente em paz. Acho que foi a primeira vez que me deixei atormentar ou ficar com raiva ele. Nas semanas seguintes, comecei a compreender, a realmente compreender. Claro que ele nunca estava presente para mim. Ele era um alcoólico! Ele nunca estava lá para ninguém, nem mesmo para mim.

 

Também comecei a descobrir que, sob minha sofisticada casca, sentia que não merecia ser amada. Nem um pouco. Em algum lugar escondido dentro de mim, mantinha a fantasia de que tinha um pai adorável que queria ficar longe de mim, que me rejeitara porque eu não era boa o bastante. Que havia algo de errado comigo. Agora, descobrira a verdade. Não era que eu não merecesse amor. Não era por eu ter problemas, embora soubesse que tinha problemas. Era ele.
E ela concluiu:
– Algo aconteceu depois disso. Eu não precisava mais que um alcoólico me amasse. A verdade me libertou.”

Não estou sugerindo que todos os problemas dela tenham sido resolvidos no momento em que ela acabou de chorar ou por um lampejo de conscientização. Ela pode ter mais aflição para sentir; ainda precisa lidar com suas características de codependência. Mas acho que o que aconteceu ajudou-a.

2.Cuide e afague essa criança assustada, vulnerável e carente que há dentro de você. A criança talvez jamais desapareça completamente, não importa o quão autossuficientes nos tornemos. As pressões podem fazer a criança chorar. Sem ser provocada, a criança pode sair e exigir atenção quando menos se espera.

 

Tive um sonho que acredito ilustrar esse ponto. Nele, uma menina de uns 9 anos tinha sido deixada sozinha, abandonada pela mãe durante vários dias e noites. Sem supervisão, a criança andava pela vizinhança tarde da noite. Ela não causava nenhum problema sério. Parecia procurar algo para preencher suas horas vazias. A criança não queria ficar em casa sozinha
quando escurecia. A solidão era muito assustadora. Quando a mãe finalmente voltou, os vizinhos a abordaram e reclamaram sobre a criança andando sozinha por toda a vizinhança. A mãe ficou com raiva e começou a brigar com a filha pelo seu comportamento: “Eu lhe disse para ficar em casa enquanto estivesse fora. Disse para não causar problemas, não disse?”,
gritava a mãe. A criança não respondeu, nem mesmo chorou. Apenas ficou ali, de cabeça baixa, e disse baixinho: “Meu estômago está doendo.”

 

Não brigue com essa criança vulnerável quando ela não quiser ficar sozinha no escuro, quando ficar assustada. Não precisamos deixar que a criança faça as escolhas por nós, mas não podemos ignorá-la. Ouça-a. Deixe-a chorar, se ela precisar. Conforte-a. Descubra do que ela necessita.

 

3.Pare de buscar a felicidade em outras pessoas. Nossa fonte de felicidade e bem-estar não está nos outros; está em nós mesmos. Aprenda a centralizar-se em si mesmo.
Deixe de centralizar-se e fixar-se em outras pessoas. Instale-se em si próprio, dentro de si mesmo. Deixe de procurar a aprovação dos outros. Não precisamos da aprovação de todos ou de alguém. Só precisamos de nossa aprovação. Nós temos dentro de nós as mesmas fontes de felicidade e possibilidades de fazer escolhas que os outros têm. Encontre e desenvolva
seu próprio suprimento interno de paz, bem-estar e autoestima. Os relacionamentos ajudam, mas não podem ser nossa fonte. Desenvolva um núcleo pessoal de segurança emocional dentro de si próprio.

 

4.Você pode aprender a depender de si próprio. Talvez outras pessoas não tenham estado presentes para nós, mas podemos começar a estar presentes para nós mesmos.
Pare de abandonar a si mesmo, suas necessidades, seus desejos, sentimentos, sua vida e tudo que o abrange. Comprometa-se a estar sempre presente para você mesmo. Podemos confiar em nós mesmos. Podemos enfrentar e lidar com os acontecimentos, problemas e sentimentos que a vida coloca em nosso caminho. Podemos confiar em nossos sentimentos e
em nossos julgamentos. Podemos resolver nossos problemas. Também podemos aprender a conviver com nossos problemas não resolvidos. Devemos confiar na pessoa de quem estamos aprendendo a depender – nós mesmos. 

 

5.Você pode também depender de Deus. Ele está lá, Ele se importa. Nossas crenças espirituais podem dar-nos um forte sentimento de segurança emocional.
Deixe-me ilustrar essa ideia. Quando vivia num bairro perigoso, certa noite tive de caminhar pelo beco atrás da minha casa para chegar ao carro. Pedi a meu marido para ficar me olhando da janela do segundo andar para ter certeza de que nada me aconteceria. Ele concordou. Enquanto atravessava o quintal, longe da segurança de minha casa e na escuridão da noite, comecei a sentir medo. Virei-me e procurei meu marido na janela. Ele estava lá. Imediatamente o medo desapareceu e me senti confortada e segura. Ocorreu-me que acredito em Deus e que posso encontrar a mesma sensação de conforto e segurança em saber que Ele está sempre lá olhando pela minha vida. Empenho-me em buscar essa segurança.
Alguns codependentes começam a achar que Deus os abandonou. Passamos por tanta dor. Tantas necessidades ficam sem ser satisfeitas, às vezes por tanto tempo, que nos dá vontade de gritar: “Para onde foi Deus? Por que Ele foi embora? Por que Ele deixou isso acontecer? Por que Ele não me ajuda? Por que Ele me abandonou?”
Deus não nos abandonou. Nós nos abandonamos. Ele está lá, e Ele se importa. Mas Ele espera que cooperemos, que cuidemos de nós mesmos.

6.Empenhe-se na des-dependência. Comece a examinar as formas em que somos dependentes, emocional e financeiramente, das pessoas a nossa volta. Comece tomando conta de si mesmo, quer esteja num relacionamento em que tenha a intenção de continuar, quer esteja tentando sair dele. Em O complexo de Cinderela, Colette Dowling sugere que isso seja feito numa atitude de “corajosa vulnerabilidade”.8 Isso quer dizer: você sente medo mas, de qualquer maneira, faz.

 

Podemos sentir nossas emoções, falar sobre nossos medos, aceitar a nós mesmos e às nossas condições atuais, e depois começar a caminhar em direção à des-dependência. Podemos fazer isso. Não temos de sentir-nos fortes o tempo todo para estarmos des-dependentes e tomarmos conta de nós mesmos. Podemos e provavelmente iremos sentir medo, fraqueza e até
desamparo. Isso é normal e até saudável. A verdadeira força aparece não por fingirmos ser fortes o tempo todo, mas por reconhecermos nossas fraquezas e vulnerabilidades quando nos sentimos assim.
Muitos de nós temos noites sombrias. Muitos de nós temos incertezas, solidão e sentimos as pontadas de desejos e necessidades que imploram ser satisfeitos, mas que passam aparentemente despercebidos. Às vezes, o caminho é nebuloso e escorregadio, e não temos esperança. Tudo que conseguimos sentir é medo. Tudo que conseguimos ver é o escuro. Certa
noite, eu estava dirigindo num tempo fechado. Não gosto de dirigir, principalmente com tempo ruim. Eu estava tensa e assustada ao volante. Não conseguia enxergar nada; os faróis iluminavam somente alguns metros da estrada. Estava quase cega. Comecei a entrar em pânico. Qualquer coisa podia acontecer! Então um pensamento calmo entrou em minha mente. O
caminho estava iluminado apenas ao longo de alguns metros, mas à medida que eu os percorria, outros tantos iam sendo iluminados. Não importava que eu não pudesse ver lá adiante. Se me acalmasse, poderia ver o que precisava ver naquele momento. Não era uma situação maravilhosa, mas podia atravessá-la se ficasse calma e usasse o que estava disponível.
Você também pode atravessar situações adversas. Pode cuidar e confiar em si mesmo. Confie em Deus. Vá o mais longe que puder e, quando chegar lá, será capaz de enxergar mais adiante.
Isso chama-se um dia de cada vez.

 

 

ATIVIDADE

 

Examine as seguintes características e decida se está num relacionamento dependente (viciado) ou saudável (amoroso):   

 

CARACTERÍSTICA

 

 

 

AMOR (SISTEMA ABERTO)

Espaço para crescer, expandir-se, desejo que o
outro cresça.

 

VÍCIO (SISTEMA FECHADO)

Dependente, baseado na segurança e no conforto; usa a intensidade da carência e da paixão como prova de amor (pode na realidade ser medo, insegurança, solidão).

Interesses distintos; outros amigos; manutenção
de outras amizades significativas.

 

Total envolvimento; vida social limitada;
negligenciamos antigos amigos e interesses.

Encorajamento de cada um para o crescimento do
outro; segurança quanto ao próprio valor.

 

Preocupação com o comportamento do outro; dependência da aprovação do outro para
estabelecer a própria identidade e o próprio valor.

Confiança; abertura.

 

Ciúme, possessividade, medo de competição, “suprimentos de proteção”.

Integridade mútua preservada.

 

As necessidades de um são suprimidas em função das do outro; autoprivação.

Desejo de arriscar e ser real.

 

Busca da invulnerabilidade total — elimina
possíveis riscos.

Espaço para a exploração de sentimentos dentro do relacionamento.

 

Reafirmação através de atividades repetidas e
ritualizadas.

Capacidade de gostar de estar sozinho.

 

Intolerância — incapaz de suportar separações
(mesmo quando em conflito); prende-se cada
vez mais. Carências — perda de apetite, insônia,
agonia letárgica e desorientada.

TÉRMINO DE RELACIONAMENTOS

Aceita o fim de um relacionamento sem sentir
perda da própria adequação e do valor próprio.

Sente inadequação, falta de valor; a decisão é
geralmente unilateral.

Deseja o melhor para o outro, mesmo quando
distantes; podem tornar-se amigos.

 

Término violento — quase sempre odeiam um ao
outro; tentam magoar-se; manipulam para ter o
outro de volta.

VÍCIO DE UM SÓ LADO

.

 

Negação, fantasia; superestima do compromisso
do outro.

.

 

Procura soluções fora de si — drogas, álcool,
novo amante, mudança de situação.9

Do livro: Codependência Nunca Mais, Pare de Controlar os Outros e Cuide de Você Mesmo, [recurso eletrônico] Melody Beattie, 5ª Edição, Viva Livros, 2017

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