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Desligamento - Princípios básicos para cuidar de si mesmo

Princípios básicos para cuidar de si mesmo

Desligamento

Desligamento não significa desligar-nos da pessoa que amamos, com quem nos
preocupamos, mas da agonia do envolvimento.1

Membro do Al-Anon

Quando estava tentando escolher o tema do primeiro capítulo desta seção, vários assuntos disputaram o primeiro lugar. Escolhi desligamento não porque é significativamente mais importante do que os outros conceitos. Selecionei-o porque é um conceito implícito. É algo que precisamos fazer com frequência, quando lutamos para viver felizes. É o objetivo da maioria dos programas de recuperação para codependentes. E é também o que devemos fazer primeiro – antes de tudo o mais que também precisamos fazer. Não podemos começar a trabalhar em nós mesmos, a viver nossas vidas, a sentir nossas emoções e a resolver nossos problemas até que nos desliguemos do objeto da nossa obsessão. Pela minha experiência (e a de outros), parece que nem nosso Poder Superior pode fazer muita coisa por nós até que nos desliguemos.


LIGAÇÃO


Quando um codependente diz: “Acho que estou me ligando a você.” Cuidado! Ele ou ela provavelmente está falando a verdade. A maioria dos codependentes são ligados a pessoas e problemas em seus ambientes. Por “ligação” não estou me referindo a sensações normais como gostar das pessoas, preocupar-nos com problemas ou sentir-nos ligados ao mundo. “Ligar” é envolver-se demais, às vezes desesperadamente. A ligação pode ter várias formas:
• Podemos tornar-nos excessivamente ligados e preocupados com um problema ou pessoa (nossa energia mental está ligada).
• Ou podemos gradualmente tornar-nos obcecados em controlar as pessoas e os problemas à nossa volta (nossa energia mental, física e emocional está concentrada no objeto de nossa obsessão).
• Podemos tornar-nos reacionários, em vez de agirmos autenticamente, de acordo com nossa própria vontade (nossa energia mental, emocional e física está ligada).
• Podemos tornar-nos emocionalmente dependentes das pessoas a nossa volta (agora, sim, estamos realmente ligados).
• Podemos tornar-nos tomadores de conta (salvadores, capacitadores) das pessoas a nossa volta (ligando-nos firmemente à necessidade deles por nós).
Os problemas com a ligação são muitos. (Neste capítulo focalizarei a preocupação e a obsessão. Nos capítulos seguintes abordarei outras formas de ligação.)

Envolvimento excessivo de qualquer tipo pode manter-nos em um caos; pode deixar as pessoas a nossa volta em estado caótico. Se concentrarmos toda a nossa energia em pessoas e problemas, pouco nos restará para viver nossa própria vida. E há muita preocupação e responsabilidade no ar. Se assumirmos tudo para nós mesmos, não sobrará nada para as pessoas à nossa volta. Fazemos demais e eles, de menos. Além disso, preocupar-nos com pessoas e problemas não ajuda nada. Não resolve os problemas, não ajuda a outras pessoas e nem nos ajuda. É energia desperdiçada.
“Se você acredita que passar mal ou se preocupar demais mudará um acontecimento, deve estar vivendo em outro planeta com um sistema diferente de realidade”, escreveu o Dr. Wayne W. Dyer em Seus pontos fracos.2

A preocupação e a obsessão embaralham tanto nossa mente que não conseguimos resolver nossos problemas. Quando nos ligamos dessa forma a alguém ou a algo, nos desligamos de nós mesmos. Perdemos o contato conosco. Perdemos nossos poderes e a capacidade de pensar, de sentir, de agir e de nos cuidar. Perdemos o controle. A obsessão com outro ser humano ou com um problema é algo terrível em que ficar preso. Você já reparou em uma pessoa obcecada por alguém ou por alguma coisa? Essa pessoa não consegue falar em mais nada, não consegue pensar em mais nada. Mesmo quando parece estar ouvindo você, você sabe que ela não está escutando. Sua mente está virando-se e revirando-se, estalando e martelando em círculos como numa interminável montanha russa de pensamentos compulsivos. Ela está preocupada. Relaciona qualquer coisa que você disser ao objeto de sua obsessão, não importa a pouca relação que tenha uma coisa com a outra. Repete as mesmas coisas, de novo e de novo, às vezes mudando ligeiramente as palavras, às vezes usando as mesmas. Nada que você diga faz qualquer diferença. Até pedir para parar não funciona. Ela provavelmente pararia, se pudesse. O problema é que não consegue (naquele momento). Está explodindo de energia negativa da qual a obsessão é feita. Tem um problema ou um conceito que está não apenas perturbando-a – está controlando-a.

Muitas pessoas com quem trabalhei em grupos familiares estavam obcecadas dessa forma pelas pessoas de quem gostavam. Quando eu perguntava o que estavam sentindo, respondiam o que a outra pessoa estava sentindo. Quando perguntava o que tinham feito, contavam o que a outra pessoa tinha feito. Sua total concentração era em alguém ou em algo que não elas.

Algumas passaram anos fazendo isso – preocupando-se, reagindo e tentando controlar outro ser humano. Elas eram apenas cascas – às vezes quase invisíveis – de pessoas. Sua energia estava exaurida, dirigida a alguém. Não conseguiam dizer o que sentiam ou pensavam porque elas mesmas não sabiam. Não concentravam-se em si mesmas.

Talvez você esteja obcecado por alguém ou por algo. Alguém diz ou faz alguma coisa. Um pensamento logo lhe ocorre. Algo que o faz recordar-se de alguma coisa passada. Um problema penetra em sua consciência. Algo acontece ou não. Ou você sente que há algo acontecendo, mas não sabe exatamente o quê. Ele não telefona, e costuma ligar para você por esta hora. Ele não atende ao telefone, e deveria. É dia de pagamento. Antes ele sempre bebia no dia do pagamento. Ele está sóbrio há apenas três meses. Será que isso acontecerá de novo hoje? Você pode não saber o que, pode não saber por que, ou não tem certeza de quando, mas você sabe que algo – algo terrível – aconteceu, está acontecendo ou está por acontecer.

Isso lhe embrulha o estômago. Toma conta de você – aquele nó na barriga, aquela ansiedade que os codependentes conhecem tão bem. É isso que nos leva a fazer a maioria das coisas que nos prejudicam; é a substância da qual a preocupação e a obsessão se alimentam. É o medo em sua pior forma. O medo geralmente vem e vai, deixando-nos no ar, prontos para lutar, ou apenas temporariamente amedrontados. Mas a ansiedade continua lá. Ela agarra a mente, paralisando-a para tudo, menos para seus próprios objetivos – uma interminável reedição dos mesmos pensamentos inúteis.

É o combustível que nos impulsiona aos comportamentos controladores de todos os tipos. Não pensamos em nada além de manter uma tampa nas coisas, controlar os problemas, e fazer com que vá embora; é a coisa da qual a codependência é feita.

Quando você fica obcecado, não consegue tirar o pensamento daquela pessoa ou daquele problema. Não sabe o que está sentindo. Não sabe o que está pensando. Não tem certeza nem do que deve fazer, mas, pelo amor de Deus, faça algo! E rápido! Preocupar-se, ficar obcecado e controlar são ilusões. São trapaças que fazemos com nós mesmos. Sentimos como se estivéssemos fazendo algo para resolver nossos problemas, mas não estamos. Muitos reagem dessa forma, com justificável boa razão. Podemos ter convivido com problemas sérios e complicados que despedaçaram nossas vidas, que fariam com que qualquer pessoa normal se tornasse ansiosa, aborrecida, preocupada e obcecada. Pode ser que amemos alguém que tenha problemas – alguém que esteja fora de controle. Esses problemas podem ser alcoolismo, algum distúrbio de comer, jogar, um problema mental ou emocional ou uma combinação disso tudo.

Pode ser que alguns de nós tenhamos problemas menos sérios, mas eles nos preocupam de qualquer maneira. Pode ser que a pessoa que amamos subitamente mude de humor. Ou faça coisas que desejávamos que não fizesse. Ou podemos achar que ele ou ela deveria fazer tudo de uma forma diferente, de uma forma melhor, uma forma que na nossa opinião não causaria tantos problemas.


Com a convivência, alguns de nós podemos ter desenvolvido uma atitude de conexão – de se preocupar, reagir e tentar controlar obsessivamente. Talvez tenhamos vivido com pessoas e passado por situações que estavam fora de controle. Talvez a obsessão e o controle sejam a forma pela qual mantenhamos as coisas em equilíbrio ou evitemos temporariamente que elas piorem. E depois simplesmente continuamos a fazer isso. Talvez tivéssemos medo de nos afastar, porque, quando nos afastamos no passado, coisas terríveis e dolorosas aconteceram. Talvez estejamos conectados a pessoas – vivendo a vida para elas e através delas – por tanto tempo que não nos sobrou nenhuma vida para ser vivida. É mais seguro ficarmos juntos. Pelo menos se estamos reagindo sabemos que estamos vivos. Pelo menos temos algo para fazer, se ficarmos obcecados ou controlando.


Há várias razões pelas quais os codependentes tendem a se agarrar aos problemas e às pessoas. Não importa se preocupação não resolve nada. Não importa que aqueles problemas raramente tenham solução. Não importa que estejam tão obcecados que não consigam ler um livro, assistir à televisão ou dar um passeio. Não importa se suas emoções estejam constantemente em tumulto quanto ao que a pessoa disse ou não disse, ao que fez ou não fez, ou ao que fará a seguir. Não importa se o que estamos fazendo não esteja ajudando a ninguém! Não importa a que custo, continuaremos conectados. Rangeremos os dentes, pegaremos a corda e ficaremos mais agarrados do que nunca.

Alguns de nós nem mesmo nos damos conta de que nos estamos agarrando tanto. Outros se convencem de que têm de ficar agarrados assim mesmo. Achamos que simplesmente não há outra escolha a não ser reagir ao problema ou à pessoa dessa maneira obsessiva. Frequentemente, quando sugiro que se desliguem da outra pessoa ou do problema, elas recuam em horror. “Oh, não”, dizem, “eu não poderia fazer isso nunca. Eu o amo demais. Importo-me demais com ele para fazer isso. Esse problema ou pessoa é importante demais para mim. Tenho de permanecer ligado a ele.”
Minha resposta é: “QUEM DISSE QUE TEM?” Trago uma notícia, uma boa notícia. Nós “não temos” de fazer nada. Há
uma maneira melhor. Chama-se “desligamento”.3

Pode ser assustador no princípio, mas no final será melhor para todos os envolvidos.


UMA MANEIRA MELHOR


O que exatamente é desligar-se? O que estou pedindo a você? (O termo, como já deve ter adivinhado, é mais um jargão.) Primeiro, vamos discutir o que desligamento não é. Desligamento não é um abandono frio e hostil; uma resignada, desesperada aceitação de qualquer coisa que a vida e as pessoas jogam em nosso caminho; nem uma caminhada robótica pela vida, esquecidos e totalmente insensíveis às pessoas e aos problemas; nem uma felicidade ignorante tipo Poliana; nem uma fuga de nossas verdadeiras responsabilidades para com nós mesmos e com os outros; nem o término de nossas relações. Não é remover nosso amor e preocupação, embora às vezes essas formas de desligamento possam ser o melhor a fazer, no momento.

Idealmente, desligamento é desobrigar-se, ou se desligar, de uma pessoa ou problema com amor. Desligar-nos mentalmente, emocionalmente e às vezes fisicamente de um envolvimento não saudável (e frequentemente doloroso) com a vida e as responsabilidades de outra pessoa, com problemas que não podemos resolver, de acordo com um folheto intitulado “Desligamento” que foi distribuído há anos para os frequentadores do AlAnon.

Desligamento é baseado na premissa de que cada pessoa é responsável por si mesma, que não podemos resolver problemas que não são nossos e que se preocupar não adianta nada. Adotamos a política de nos afastar das responsabilidades de outras pessoas, e de cuidar das nossas. Se as pessoas criam alguns desastres para si mesmas, permitimos que elas próprias enfrentem as consequências. Permitimos às pessoas serem quem são. Damos a elas a liberdade de serem responsáveis e de crescerem. E damos a nós mesmos essa mesma liberdade. Vivemos nossas próprias vidas o melhor que podemos. Lutamos para determinar o que é possível mudar e o que não é. Depois, paramos de tentar mudar as coisas que não podemos. Fazemos o que está a nosso alcance para resolver um problema, e depois paramos de nos lamuriar e de nos afligir. Se não podemos resolver um problema e fizemos o que podíamos, então aprendemos a viver com o problema, ou apesar dele. E tentamos viver vidas felizes – concentrando-nos heroicamente no que é bom em nossa vida hoje e sentindo gratidão por isso. Aprendemos a lição mágica de que aproveitar o que temos ao máximo transforma isso em mais.

Desligamento envolve “viver o momento presente” – viver aqui e agora. Permitimos que a vida aconteça, em vez de forçá-la e tentar controlá-la. Abandonamos os arrependimentos do passado e o medo do futuro. Fazemos o melhor a cada dia.

Desligamento também envolve aceitar a realidade – os fatos. Requer fé – em nós mesmos, em Deus, em outras pessoas e na ordem natural e no destino das coisas neste mundo. Acreditamos na propriedade e na exatidão de cada momento. Livramo-nos de nossas cargas e preocupações e permitimo-nos a liberdade de gozar a vida, apesar dos problemas não resolvidos. Confiamos em que tudo está bem, apesar dos conflitos. Confiamos em que Alguém maior que nós mesmos sabe, ordenou e se importa com o que está acontecendo. Compreendemos que esse Alguém pode fazer muito mais do que nós para resolver o problema. Então tentamos sair do caminho Dele e deixar que Ele faça isso. Com o tempo saberemos que tudo está bem, porque veremos como as coisas mais estranhas (e às vezes mais dolorosas) mudam para melhor e para o benefício de todos.

Judi Hollis escreveu sobre desligamento num capítulo sobre codependência em seu livro Fat Is a Family Affair [A obesidade é uma questão familiar]. Ela descreve o desligamento como uma “saudável neutralidade”.4

Desligamento não significa que não nos importamos. Significa que aprendemos a amar, a nos importar e a nos envolver sem ficarmos loucos. Paramos de criar todo esse caos em nossas mentes e em nossos ambientes. Quando não estamos nos debatendo ansiosa e compulsivamente, nos tornamos capazes de tomar boas decisões sobre como amar as pessoas e como resolver nossos problemas. Ficamos livres para nos importar e amar de maneira a ajudar aos outros sem ferir a nós mesmos.5

As recompensas do desligamento são grandes: serenidade, uma profunda sensação de paz; a capacidade de dar e receber amor de maneiras positivas e energizantes; a liberdade para encontrar soluções reais para os nossos problemas.

Encontramos liberdade para viver nossa própria vida sem excessos de culpa ou de responsabilidade para com outros.6 Às vezes, o desligamento até motiva e liberta as pessoas à nossa volta para que comecem a resolver seus problemas. Paramos de nos preocupar com elas; elas se dão conta e finalmente começam a se preocupar consigo mesmas. Que grande plano! Cada um tratando da própria vida.

Descrevi há pouco uma pessoa presa no envolvimento das obsessões e preocupações. Conheci muitas que tiveram ou preferiram viver com problemas sérios, como um cônjuge alcoólico que nunca para de beber, uma criança severamente deficiente ou um adolescente infernal que destrói a si mesmo com drogas e comportamento criminoso. Essas pessoas aprenderam a viver apesar de seus problemas. Elas choraram suas perdas, depois encontraram uma maneira de viver não em resignação, martírio ou desespero, mas com entusiasmo, paz e um verdadeiro senso de gratidão pelo que era bom. Elas tomaram conta de suas verdadeiras responsabilidades.


Elas se davam às pessoas, as ajudavam e amavam. Mas também se davam e amavam a si mesmas. Mantinham-se em alta estima. Nada faziam com perfeição, sem esforço ou instantaneamente. Mas empenharam-se e aprenderam a fazer tudo.

Tenho uma dívida de gratidão para com essas pessoas. Elas me ensinaram que o desligamento era possível. Mostraram-me que funciona. Gostaria de poder transmitir essa mesma esperança a você. E que você encontre outras pessoas para passar adiante essa esperança, porque o desligamento é real e floresce com apoio e cuidado.


Desligamento é tanto uma ação quanto uma arte. É uma forma de vida. Acredito que é também um presente. E será proporcionado àqueles que o procuram.

Como nos desligamos? Como livrar nossas emoções, nossa mente, nosso corpo e nosso espírito da agonia do envolvimento? Da melhor forma que pudermos. E provavelmente um pouco desajeitadamente no princípio. Um velho ditado dos Alcoólicos Anônimos e do Al-Anon sugere uma fórmula de três partes: Honestidade, Abertura e Desejo de Tentar.7

Nos próximos capítulos, discutiremos conceitos mais específicos de desligamento de certas formas de ligação. Você terá de decidir como essas ideias se aplicam a você e à sua situação em particular, e depois encontrar o
próprio caminho. Com um pouco de humildade, dedicação e esforço de sua parte acredito que possa fazer isso. Acredito que o desligamento pode transformar-se em reações costumeiras, da mesma maneira que a obsessão,
a preocupação e o controle se transformam em reações costumeiras – pela prática. Você pode não fazer isso com perfeição, mas ninguém faz. Contudo, seja qual for o ritmo em que pratique o desligamento em sua vida, acredito que será o certo para você. Espero que seja capaz de desligar-se com amor das pessoas de quem esteja se desligando. Acho que é melhor fazer tudo numa atitude de amor. Entretanto, por uma série de razões, nem sempre é possível fazer isso. Se não pode desligar-se com amor, minha opinião é de que é melhor separar-se com raiva do que permanecer ligado. Se nos separamos, ficamos numa posição melhor para lidarmos com (ou por meio de) nossos ressentimentos. Se continuarmos conectados, provavelmente não faremos outra coisa a não ser continuar perturbados.

Quando devemos nos desligar? Quando não conseguimos deixar de pensar, falar e nos preocupar com algo ou alguém; quando nossas emoções estão fervendo; quando achamos que temos de tomar uma atitude quanto a alguém porque não conseguimos aguentar nem mais um minuto; quando estamos por um fio e esse fio está enfraquecendo; quando acreditamos que não podemos mais conviver com o problema com o qual temos tentado viver. É hora de desligar-se! Você aprenderá a reconhecer quando o desligamento for aconselhável. Um boa regra é: você precisa desligar-se principalmente quando isso parecer a coisa mais impossível de ser feita.

Fecharei este capítulo com uma história verdadeira. Uma noite, por volta da meia-noite, o telefone tocou. Eu já estava na cama e imaginei, enquanto pegava o telefone, quem poderia estar ligando àquela hora. Achei que devia ser uma emergência.
De certa forma, era. Era uma desconhecida. Ela estava telefonando para vários amigos havia horas, tentando encontrar algum tipo de consolo, o que aparentemente não havia sido capaz de encontrar. Alguém lhe deu o telefone de outra pessoa, aquela pessoa deu o telefone de alguém mais, e a última pessoa sugeriu que ela me telefonasse.

Imediatamente após se apresentar, a mulher explodiu num longo discurso. Seu marido costumava ir ao A. A. Ele se separara dela, e agora estava saindo com outra mulher porque queria “encontrar-se”. Além disso, antes de deixá-la, ele vinha agindo como louco e não estava indo às reuniões. E, perguntava ela, ele não está agindo como louco ao sair com uma mulher muito mais jovem do que ele?

No princípio fiquei muda, depois foi difícil encontrar uma chance para dizer alguma coisa. Ela falava sem parar. Finalmente, ela perguntou:
– Você não acha que ele está doente? Não acha que está louco? Não acha que ele deve fazer alguma coisa?
– Talvez – respondi. – Mas obviamente não posso fazer nada, e você tampouco. Estou mais preocupada é com você. Como você está se sentindo? O que você acha? O que você precisa para cuidar de si mesma?

Agora, quero dizer a mesma coisa a você, caro leitor. Sei que tem problemas. Compreendo que possa estar profundamente aflito e preocupado com certas pessoas em sua vida. Elas podem estar destruindo a si próprias, você e à sua família, bem diante de seus olhos. Mas não posso fazer nada para controlar essas pessoas; e é provável que você também não. Se pudesse, certamente já o teria feito.
Desligue-se. Desligue-se com amor ou com raiva, mas esforce-se para se desligar. Sei que é difícil, mas será mais fácil com a prática. Se não conseguir desligar-se completamente, tente “ficar solto”.8 Relaxe. Agora, respire fundo.
E concentre-se em você.


ATIVIDADE

  1. Existe algum problema ou pessoa em sua vida que o esteja preocupando em excesso? Escreva sobre essa pessoa ou problema. Escreva o tanto quanto precisar para desabafar. Quando escrever tudo que precisar sobre a pessoa ou o problema, concentre-se em si mesmo. O que está pensando? O que está sentindo?
  2. Como se sente quanto a desligar-se dessa pessoa ou desse problema? O que pode acontecer se você se desligar? O que provavelmente acontecerá de qualquer forma? Como ficar “conectado” – preocupado, obcecado, tentando controlar – tem ajudado até agora?
  3. Se não tivesse essa pessoa ou esse problema, o que estaria fazendo de diferente em sua vida? Como estaria se sentindo e comportando? Leve alguns minutos visualizando a si mesmo vivendo sua vida, sentindo-se e
    comportando-se à sua maneira – apesar de seus problemas não resolvidos. Visualize suas mãos colocando nas mãos de Deus a pessoa ou o problema que o atormenta.9 Visualize as mãos Dele segurando aquela pessoa suave e carinhosamente ou aceitando desejosamente aquele problema. Agora, visualize as mãos Dele segurando você. Está tudo bem. Tudo está como deveria e precisa estar. Tudo ficará bem – melhor do que você imagina.

Do livro: Codependência Nunca Mais, Pare de Controlar os Outros e Cuide de Você Mesmo, [recurso eletrônico] Melody Beattie, 5ª Edição, Viva Livros, 2017

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