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EDUCANDO PARA O SOFRIMENTO

 

Fui uma criança muito enérgica, divertida, rebelde até, e inquieta; queria saber sempre mais, ser mais e fazer mais…

O que aconteceu a essa criança?

Porque é que desisti de crescer? Para onde foi toda essa energia, curiosidade, alegria, bem-estar? Como é que me tornei numa “pseudoadulta” em que o pânico governava o meu dia-a-dia? Porque deixei que o medo me petrificasse? Porque não queria ser responsável? Porque culpava tudo e todos pela minha realidade?

O que aconteceu a essa criança?

Muitos se justificam de que foi a vida – a vida foi madrasta…

Eu não vejo assim…

Devido a ter chegado a esse beco sem saída, aos 25 anos internei-me no Centro Internacional de Recuperação de Doenças Graves. Aí começou uma vida nova, e eu pude ter acesso a uma realidade que eu desconhecia. Pude confirmar com a minha própria experiência que as ferramentas funcionavam – ou então neste momento eu nem sequer estaria viva; seria mais provável o suicídio pois não aguentaria tanto sofrimento… Estava á beira da loucura… á distância de uma unha…

O que aconteceu àquela criança?

Àquela e, infelizmente, a tantas outras…

O que eu descobri foi que o que me levou á autodestruição foi tudo o que eu tomei como verdade – tudo que me foi passado desde que ainda permanecia na barriga da mãe: crenças, conceitos, princípios, valores – tudo isso foi a minha ruina… Conceitos baseados na separação – separação entre EU, os OUTROS, o MUNDO, e DEUS…

Mais ainda, não só o que me foi passado, mas todo um ambiente coletivo que me influenciava – um paradigma dominante dualista e materialista que como íman me manipulava a agir de certa forma, ainda que eu achasse que não fazia sentido…

O pior de tudo é que continuo a ver crianças a serem “educadas” da mesma forma que eu fui, ou pior ainda…

Frases como: portaste-te mal, não gosto de ti! Se fizeres assim eu gosto de ti! Tens que ser melhor que os outros! Não confies em ninguém! Não aceites nada de ninguém! A vida é madrasta! Não sonhes muito alto: quanto mais alto, maior a queda! Tudo que sobe, desce! O dinheiro não é tudo! Mais vale pobre e feliz, que rico e infeliz… Entre outras…

(E entretanto já fiquei mal disposta com tanta barbaridade…)

E o mais “engraçado” é que são exatamente esses “pseudoadultos” que mais sofreram com esta “educação” que fazem questão de a passar rigidamente ás suas crianças…

Claro que, a partir do momento em que tenho conhecimento de tudo isto, tenho escolha: enquanto caminhava tropecei na verdade… E agora? O que faço? Ou finjo que nada aconteceu, e continuo miseravelmente o meu caminho, ou então mudo – MUDO-ME A MIM MESMA.

De que me serve culpar o sistema, a educação, o pai, a mãe, o periquito, o cão, o tempo? Cada um é responsável pela criação da sua realidade. Mas mais do que isso, cada um é responsável pela criação da realidade do toso. Sim. Pois se continua na miséria está a contribuir para mais miséria, mais pobreza, mais crianças maltratadas – futuros adultos imaturos e em sofrimento…

Quando uma célula do nosso corpo está doente, todo o corpo está doente. Quando uma célula do corpo melhora, todo o corpo melhora.

Então como podemos evitar que as crianças continuem a ser “educadas” para uma vida sem sentido?

A chave está na mudança de cada um.

Elisabete Milheiro

Do Workshop EDUCANDO PARA O SOFRIMENTO

 

 

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