
FAZER A SUA PARTE
A frase de Paulo “faz a tua parte” aplica-se continuamente nas nossas vidas, pois o mais comum é cada um furtar-se a fazê-la. De facto, bastaria que cada qual fizesse apenas a sua parte para que o mundo se equilibrasse, mas como poucos a fazem, são uns tantos que são obrigados a fazer a parte dos outros para compensar o desinteresse destes. Isto é injusto e certamente é pouco produtivo.
Nem é muito inteligente, posso acrescentar, uma vez que não seremos ajudados enquanto não fizermos a nossa parte no palco da vida onde desempenhamos os nossos papéis. Só quando ajudarmos, seremos ajudados. Esta é a lei.
Em Brasília, a um grupo espiritual onde se trabalhava pertencia também a ministra do Trabalho de então, uma economista de grande capacidade e rectidão de conduta. Não raro se deparava com problemas difíceis, suscitados pelas condições muito pressionantes em que actuava. Uma vez apareceu num estado extremo de desânimo e frustração, encontrava-se numa verdadeira encruzilhada da vida, sentia que o que estava a fazer era inútil, porque o que fazia não era acompanhado nem posto em prática pelos que deviam implementar as suas orientações. Perguntava:
– De que vale o que eu faço, se os outros nada fazem? Disse-lhe a entidade espiritual, em resposta às suas dúvidas:
– Faz a tua parte. Se os outros não fazem as deles, é problema deles, não teu. O teu é fazer o que tens de fazer. E não podes fazer o que tens de fazer a olhar em volta para o que os outros não fazem. Olha apenas para ti e cumpre-te.
No entanto, fazer a nossa parte é por vezes um problema de não fácil discernimento, pois é preciso ter em linha de conta que não poderemos pedir auxílio ao mundo espiritual enquanto a nossa parte não estiver cumprida. Muitas vezes a pessoa religiosa crê que fazer a sua parte é orar. Também o poderá ser, claro, pois rezar é vital, mas a oração não pode ser um substituto da acção. Que quero dizer com isto? O seguinte: a oração só poderá ser atendida se tivermos esgotado os nossos meios de acção. Repito, a oração não substitui a acção. Mas pode e deve complementá-la.
Dois exemplos ilustram isto mesmo.
O primeiro é uma história. Aquele homem ia diariamente à sua igreja, plantava-se diante do altar e dizia:
-Meu Deus, tenho sido temente a ti e tenho vindo regularmente à tua igreja, tenho-te venerado e dado o meu dízimo. Agora é a hora de me retribuíres a minha devoção, pelo que te peço uma pequenino favor: faz-me ganhar na lotaria.
Como Deus não parecia ligar-lhe muita importância e não atendia aos seus rogos, dia após dia lá voltava o homem com o seu pedido, cada vez mais prostrado pelo divino silêncio:
-Meu Deus, não compreendo. Peço-te uma coisa tão pequena e não a satisfazes. Há por aí tantos pecadores que andam a ficar ricos e a mim, que sou crente, que sou virtuoso, que te tenho honrado durante tanto tempo, não me ajudas no que te peço.
Por último:
– Meu Deus, assim eu não aguento. Agora até aquele diabo do meu vizinho, um tratante que nunca veio à igreja, até ele ganhou na lotaria!
Nessa altura, o divino, que já estava com os ouvidos cheios de tamanha lamúria diária, perdeu a paciência. Berrou-lhe lá de cima:
-Mas ao menos ele comprou um bilhete, não é?
Esta anedota tem um lado muito sério e encerra uma moral importante: é que nada obteremos se não fizermos a nossa parte. Se se quiser ganhar na lotaria, há ao menos que comprar o bilhete. De nada adianta orarmos a pedir o que poderemos obter pelo nosso próprio esforço. Portanto, é nossa obrigação inalienável ir até ao limite das nossas capacidades, pois isso é o que nos compete fazer, e só a partir daí, do ponto em que já nada mais poderemos fazer por nós próprios é que será justo apelarmos para a intervenção do Alto.
O exemplo seguinte ilustra uma outra face da questão. Agora é um episódio verídico. Passa-se numa aldeia russa que é infestada, em finais do século xix, por uma nuvem de gafanhotos. As colheitas correm perigo iminente de serem destruídas e os camponeses distribuem-se por dois grupos: os religiosos e os não religiosos. Os primeiros vão para a igreja com as suas famílias, rezam a Deus para lhes salvar as plantações e depois regressam a casa e dormem descansados, certos de que estão a salvo. Os segundos vão para os seus campos, armam-se com paus e vassouras e passam a noite inteira a enxotar os gafanhotos.
Quando a manhã chega, os resultados são estes: os campos dos religiosos estão completamente destruídos e os dos descrentes estão quase intactos. Os crentes voltaram à igreja e disseram:
– Meu Deus, porque nos humilhaste perante aqueles que não te reconhecem? Apelámos para ti com veemência e afinal não só nos deixaste na ruína como ajudaste os que nada te pediram. Porque nos abandonaste?
Pergunto-vos agora: Qual a vossa opinião? Afinal, quem fez a sua parte?
Excerto do Livro Construir o Templo Interior, de Emanuel Sáskya
Revisto em 08/2021
Nota:
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