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Liberte-se

Princípios básicos para cuidar de si mesmo

Liberte-se


Deixe estar e dê sossego a Deus.
–Slogan do programa dos Doze Passos


Dizem que os codependentes são controladores.

Irritamos; damos lição; gritamos; berramos; choramos; imploramos; subornamos; coagimos; rodeamos; protegemos; acusamos; caçamos; fugimos; tentamos convencer; tentamos desconvencer; tentamos pôr a culpa; seduzimos; preparamos armadilhas; vigiamos; demonstramos como estamos magoados; magoamos de volta para que saibam o quanto dói; ameaçamos magoar a nós mesmos; damos ultimatos; fazemos coisas; recusamo-nos a fazer coisas; saímos porta afora; nos vingamos; ficamos quites; choramingamos; ficamos furiosos; fingimos ser indefesos; sofremos em “silêncio”; tentamos agradar; mentimos; fazemos pequeninas coisas às escondidas; fazemos coisas grandes às escondidas; batemos no peito e ameaçamos morrer; arrancamos os cabelos e ameaçamos ficar loucos; batemos no peito e ameaçamos matar; pedimos ajuda a amigos; medimos as palavras demais; dormimos com alguém; recusamo-nos a dormir com alguém; temos filhos com alguém; barganhamos; arrastamos alguém para a ajuda profissional; arrastamos alguém para fora da ajuda profissional; falamos sério sobre o assunto; insultamos; condenamos; rezamos por milagres; pagamos por milagres; vamos a lugares aonde não queremos ir; não vamos a lugar nenhum; supervisionamos; ditamos; comandamos; reclamamos; escrevemos cartas para alguém; escrevemos cartas sobre alguém; ficamos em casa e esperamos; saímos e procuramos; pedimos a todos para procurar; andamos à noite por becos escuros esperando encontrar; andamos por becos escuros à noite esperando pegar; corremos à noite em becos escuros fugindo de alguém; trazemo-la de volta para casa; trancamo-la em casa; trancamo-la fora de casa; mudamo-nos para longe; mudamos para viver com ela; repreendemos; impressionamos; aconselhamos; ensinamos lições; deixamos claro; insistimos; desistimos; aplacamos; provocamos; tentamos causar ciúmes; tentamos causar medo; lembramos; inquirimos; adivinhamos; procuramos nos bolsos; procuramos nas carteiras; procuramos nas gavetas; no porta-luvas; na descarga do banheiro; tentamos prever o futuro; procuramos enxergar o passado; ligamos para parentes; argumentamos; acabamos com aquele assunto de uma vez por todas; e de novo; punimos; recompensamos; quase desistimos; depois tentamos mais ainda; e uma lista de outras manobras de que me esqueci ou ainda não tentei.

Não somos o tipo de pessoa que “faz as coisas acontecerem”.

Codependentes são pessoas que, consistentemente, e, com grande esforço e energia, tentam forçar as coisas a acontecerem.
Controlamos em nome do amor.
Fazemos isso porque estamos “apenas tentando ajudar”.
Porque sabemos melhor como as coisas devem ser e como as pessoas devem comportar-se.
Porque estamos certos e eles estão errados.
Porque temos medo de não fazer isso.
Porque não sabemos mais o que fazer.
Para parar a dor.
Controlamos porque achamos que temos de controlar.
Controlamos porque não pensamos.
Controlamos porque é só nisso que pensamos.
Finalmente, controlamos porque é assim que sempre fizemos as coisas.
Tirânicos e dominadores, alguns controlam com mão de ferro, sentados em trono designado por si mesmos. São poderosos. Sabem tudo. E, queira ou não queira, tal coisa será feita de tal maneira. Eles farão com que seja assim.
Já outros fazem seus trabalhinhos sujos às escondidas. Escondem-se atrás da doçura e da bondade, e vão cuidando secretamente das coisas – DAS COISAS DOS OUTROS.
Outros, suspirando e chorando, alegam incapacidade, proclamam sua dependência, anunciam total submissão e, por meio da fraqueza, controlam com sucesso. São tão indefesos. Precisam tanto de cooperação. Não podem viver sem isso. Às vezes, os fracos são os mais poderosos manipuladores e controladores.1 Eles aprenderam a ir a reboque da culpa e da piedade do mundo.
Muitos codependentes também combinam táticas, usando uma variedade de métodos. Tudo que funcionar! (ou, mais exatamente, tudo que não funciona, embora continuemos a desejar que sim). Apesar das táticas, os objetivos são os mesmos. Fazer com que as pessoas façam o que você quer que façam. Fazê-las comportarem-se como você acha que devam. Não deixá-las comportarem-se como acha que não devam, mas como provavelmente se comportariam sem sua “assistência”.

Forçar os acontecimentos da vida a se desemaranharem e se desenrolarem da maneira e na hora que você designar. Não deixar que o que esteja acontecendo, ou possa acontecer, aconteça. Agarrar firme e não soltar. Nós escrevemos e dirigimos a peça para que os atores se comportem e as cenas se desenvolvam exatamente como decidimos que devam. Não importa se continuamos a resistir à realidade. Se continuarmos atacando com suficiente insistência, poderemos (acreditamos) parar o fluxo da vida, transformar as pessoas e mudar as coisas à nossa maneira.
Estamos enganando a nós mesmos.


Deixe-me contar-lhe sobre Maria. Ela se casou com um homem que se transformou em alcoólico. Alcoólico de grandes bebedeiras esporádicas. Não bebia todos os dias, todos os fins de semana ou todos os meses, mas quando bebia… era pra valer. Ficava bêbado durante dias, às vezes semanas. Começava bebendo às 8 horas e bebia até perder os sentidos. Vomitava para todo lado, esbanjava as finanças da família, perdia empregos e criava um caos insuportável. Entre as bebedeiras, a vida tampouco era perfeita. A sensação de desgraça e ressentimentos não resolvidos pairava no ar. Outros problemas não resolvidos, resíduos das bebedeiras, amontoavam-se descontroladamente em suas vidas. Não conseguiam nunca ficar à frente dos desastres. Estavam sempre recomeçando com um monte de problemas. Mas, para Maria e seus três filhos, era melhor quando o marido não estava bebendo. Havia esperança de que daquela vez fosse tudo diferente.

Nunca era diferente. Durante anos, cada vez que Maria virava as costas, o marido embebedava-se. Quando ela viajava num fim de semana, quando ia para o hospital ter bebê, quando ele viajava ou estava longe do controle dela por alguma razão, ele bebia.
Quando Maria voltava ou o impedia de beber o que estivesse bebendo, ele imediatamente deixava de beber. Maria descobriu que a chave da sobriedade do marido era a sua presença. Ela conseguia controlar a bebida dele (e toda a dor que isso causava) ficando perto de casa e vigiando-o.
Porque aprendeu esse método de controle, e, por causa da vergonha, do constrangimento, da ansiedade e do trauma que acompanhavam a codependência, Maria se tornou uma reclusa. Recusava oportunidades de viajar, recusava-se a ir às conferências da igreja que frequentava. Até deixar a casa por algo mais além de ir ao supermercado, começava a ameaçar o equilíbrio que ela havia criado – ou pensava que havia criado. Apesar de seus esforços determinados e desesperados, seu marido ainda encontrava oportunidades para beber. Encontrava formas de beber em casa sem ela saber, e bebia quando ela tinha de passar a noite fora.

Depois de uma bebedeira particularmente destrutiva, o marido de Maria informou-lhe que a desastrosa situação financeira em que se encontravam era o motivo por que bebia. (Ele deixou de mencionar que suas bebedeiras haviam causado a desastrosa situação financeira.) Disse que, se ela arranjasse um emprego e ajudasse financeiramente, ele não teria motivo para beber. A pressão relaxaria. Maria pensou, depois relutantemente concordou. Tinha medo de deixar a casa e se preocupava em poder arranjar alguém responsável para tomar conta das crianças. Não se sentia emocional ou mentalmente capaz de trabalhar. E, principalmente, se ressentia por ter de trabalhar para ganhar um dinheiro extra, quando o marido era tão irresponsável. Mas valia a pena tentar. Tudo para manter aquele homem sóbrio!


Pouco tempo depois, Maria arranjou um emprego de secretária num escritório de advocacia. Ela se saiu bem – melhor do que imaginara. Codependentes são ótimos empregados. Não se queixam; fazem mais do que devem; fazem tudo que lhes pedem; agradam as pessoas; tentam fazer seu trabalho perfeitamente – pelo menos por um tempo, até se tornarem raivosos e ressentidos.

Maria começou a sentir-se um pouco melhor quanto a si mesma. Gostava do contato com as pessoas – algo que sentira falta por toda sua vida. Gostava da sensação de ganhar o próprio dinheiro (embora ainda se ressentisse de irresponsabilidade financeira do marido). E seus patrões gostavam dela. Deram-lhe mais responsabilidades e estavam a ponto de promovê-la para uma posição de estabilidade, mas Maria começou a sentir aquela conhecida ansiedade – o sinal de que o marido estava para beber de novo.

Essa sensação durou dias. Então, um dia, pegou-a com força total. Maria telefonou para o marido. Ele não estava no trabalho, onde devia estar. O patrão dele não sabia onde estava. Ela deu mais alguns telefonemas. Ninguém sabia onde ele estava. Ela passou o dia roendo as unhas, dando telefonemas desesperados, mas esperando que os colegas não enxergassem através de sua máscara de “tudo está bem – não há problemas”. Naquela noite, quando chegou em casa, descobriu que o marido não estava lá e não tinha pegado as crianças na creche, como deveria. As coisas estavam novamente fora de controle. Ele estava bebendo de novo.

Na manhã seguinte, ela largou o emprego – saiu sem dizer nada. Às 10 horas, estava de volta em casa – vigiando o marido.
Anos depois ela contou: “Eu achava que tinha de fazer aquilo. Tinha de manter as coisas sob controle – MEU CONTROLE.”
Maria aprendeu que não estava controlando o marido ou sua bebida. Ele e seu alcoolismo é que a estavam controlando.

Esse ponto ficou mais claro para mim numa noite em que fui a coordenadora de um grupo familiar num centro de tratamento. (Muitos dos meus clientes são espertos – mais espertos do que eu. Aprendi demais ouvindo-os.) Durante a reunião, a esposa de um alcoólico disse abertamente a seu marido – um sujeito que tinha passado muitos anos de seu casamento bebendo, desempregado ou preso:
– Você me acusa de tentar controlá-lo, e acho que está certo – disse ela. – Já fui com você a bares para que não bebesse tanto. Deixei-o vir para casa quando estava bêbado e violento, para que não bebesse mais ou ferisse a si mesmo. Já medi suas bebidas, bebi com você (e odeio beber), escondi suas garrafas e levei-o às reuniões dos Alcoólicos Anônimos. Mas a verdade – acrescentou – é que você sempre me controlou. Com todas aquelas cartas da prisão dizendo o que eu queria ouvir. Com todas aquelas promessas, todas aquelas palavras. Cada vez que estou prestes a deixá-lo, a ir embora para sempre, você faz coisas ou diz as palavras certas para que eu não vá. Sabe muito bem o que desejo ouvir e diz tudo direitinho. Mas você nunca muda. E nunca teve intenção de mudar. Só quer me controlar.
Ele deu um meio-sorriso e concordou.
– Sim, tenho tentado controlar você. E tenho feito um bom trabalho quanto a isso – disse ele.

Quando tentamos controlar as pessoas e as coisas que não nos compete controlar, nós somos controlados. Abrimos mão de nosso poder de pensar, de sentir e de agir da melhor forma. Frequentemente perdemos o controle de nós mesmos. Em geral, estamos sendo controlados não apenas pelas pessoas, mas por doenças como o alcoolismo, distúrbios alimentares e de jogar compulsivamente. O alcoolismo e outras desordens destrutivas são forças poderosas. Nunca se esqueça de que os alcoólicos e outras pessoas que sofreu de distúrbios são especialistas em controlar. Enfrentamos nosso maior inimigo quando tentamos controlar a eles ou à sua doença. Perdemos as batalhas. Perdemos as guerras. Perdemos a nós mesmos – as nossas vidas.

Tomando um pouquinho emprestado de Al-Anon: você não causou isso; não pode controlar isso; e não pode curar isso.
Então pare de tentar! Ficamos totalmente frustrados quando tentamos fazer o impossível. E geralmente evitamos que o possível aconteça. Acredito que me agarrar a uma pessoa ou a uma coisa, ou forçar meu desejo em dada situação, elimina a possibilidade de que meu Poder Superior faça qualquer coisa construtiva quanto a uma situação, a uma pessoa ou a mim.

Meu controle bloqueia o poder de Deus. Bloqueia a capacidade de outras pessoas crescerem. Evita que tudo aconteça naturalmente. Evita que se desfrute das pessoas ou das coisas.
Controlar é uma ilusão. Não funciona. Não podemos controlar o alcoolismo. Não podemos controlar os comportamentos compulsivos de ninguém – comer demais, desvios sexuais, jogar – ou qualquer de seus comportamentos. Não podemos (e não compete a nós) controlar as emoções, a mente ou as escolhas de ninguém. Não podemos controlar o desfecho dos acontecimentos. Não podemos controlar a vida. Alguns mal podem controlar a si mesmos.

No final, as pessoas fazem o que desejam. Sentem o que desejam sentir (ou como estão se sentindo); acham o que querem achar; fazem as coisas que acham que precisam fazer; e só mudarão quando estiverem prontas.
Não importa se elas estão erradas e nós, certos. Não importa se estão prejudicando a si mesmas. Não importa se poderíamos ajudá-las se elas nos ouvissem e cooperassem connosco. NÃO IMPORTA, NÃO IMPORTA, NÃO IMPORTA, NÃO IMPORTA.

Não podemos mudar as pessoas. Quaisquer tentativas de controlá-las são ilusão e desilusão. Elas ou resistirão ou redobrarão os esforços para provar que não podemos controlá-las. Talvez se adaptem temporariamente às nossas demandas, mas no momento em que virarmos as costas voltarão ao seu estado natural. E, além disso, nos punirão por levá-las a fazer algo que não querem fazer, ou por serem alguém que não desejam. Nenhum controle conseguirá uma mudança permanente ou desejável em outra pessoa. Às vezes, podemos fazer coisas que aumentem a probabilidade de que elas queiram mudar, mas não podemos nem mesmo garantir ou controlar isso.

Essa é a verdade. Que lástima. Às vezes, é difícil aceitar, principalmente quando a pessoa que você ama está prejudicando a si mesma – e a você. Mas é assim que as coisas são. A única pessoa que você pode ajudar a mudar ou conseguir mudar é você mesmo. A única pessoa que é seu problema controlar é você mesmo.
Desligue-se. Desista. Às vezes, quando se faz isso, o resultado que esperamos e desejamos acontece rapidamente, quase milagrosamente. Às vezes, não. Às vezes, nunca acontece. Mas você se beneficiará. Você não precisa deixar de se importar ou de amar. Não tem de tolerar abusos. Não tem de abandonar métodos construtivos de resolver problemas, como uma intervenção profissional. Só precisa colocar suas mãos emocionais, mentais, espirituais e físicas de volta em seus bolsos e deixar as coisas e as pessoas em paz. Deixe-as sossegadas. Tome as decisões que precise tomar para cuidar de si mesmo, mas não para controlar outras pessoas. Comece tomando conta de si mesmo!
– Mas isso é tão importante para mim – protestam muitas pessoas. – Não posso me desligar.
Se é tão importante para você, então é mais uma razão para se desligar.
Uma grande sabedoria sobre desligamento aprendi com as crianças – meus filhos. Às vezes, meu filho mais novo, Shane, quando me abraça, me aperta demais e por muito tempo. Ele começa a cair sobre mim. Perco o equilíbrio e fico impaciente para que me solte. Começo a resistir a ele. Talvez ele faça isso para manter-se perto de mim mais um pouco. Talvez seja uma forma de me controlar. Não sei. Uma noite, quando ele fez isso, minha filha nos olhava, até que ficou irritada e impaciente.
– Shane – disse ela – há uma hora em que se deve soltar.


Para cada um de nós, há uma hora para se soltar. Você saberá quando ela chegar. Quando tiver feito tudo o que pode, será hora de desligar. Examine seus sentimentos. Enfrente o medo de perder o controle. Assuma o controle de si mesmo e de suas responsabilidades. Deixe os outros livres para que sejam quem são. Fazendo isso, você também se libertará.


ATIVIDADE

  1. Há algum acontecimento ou pessoa em sua vida que você esteja tentando controlar? Por quê? Escreva alguns parágrafos sobre isso.
  2. De que forma (mental, física, emocional etc.) você está sendo controlado por alguma coisa ou por alguém que você esteja tentando controlar?
  3. O que aconteceria (a você e à pessoa) se você se desligasse dessa situação ou dessa pessoa? O que poderia acontecer de qualquer maneira, apesar de suas tentativas de controlar? Como você se beneficia ao tentar controlar a situação? Como a outra pessoa se beneficia com suas tentativas de controle? Quão eficientes são suas tentativas de controlar os
    acontecimentos?

Do livro: Codependência Nunca Mais, Pare de Controlar os Outros e Cuide de Você Mesmo, [recurso eletrônico] Melody Beattie, 5ª Edição, Viva Livros, 2017

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