
Princípios básicos para cuidar de si mesmo
Aprenda a arte da aceitação – 3ª Parte
Negação
O primeiro estágio é a negação. É um estado de choque, dormência, pânico, a recusa geral de aceitar ou reconhecer a realidade. Fazemos tudo para colocar as coisas de volta ao lugar ou fingir que a situação não está acontecendo. Há muita ansiedade e medo nesse estágio. As reações típicas de negação incluem: recusar-se a acreditar na realidade (“Não, não pode ser!”); negar ou minimizar a importância da perda (“Não é grande coisa.”); negar quaisquer emoções sobre a perda (“Não me importo.”); ou a fuga mental (dormindo, tendo ideias fixas, comportamentos compulsivos, mantendo-se ocupado).8 Podemos sentir-nos um pouco desligados de nós mesmos, e nossas respostas emocionais podem ser simplórias, não existentes ou mesmo impróprias (rir quando se deveria chorar; chorar quando se deveria estar feliz).
Estou convencida de que temos a maioria de nossos comportamentos codependentes nesse estágio – manias, perseguições, repressão de emoções. Também acredito que muitos de nossos sentimentos de “loucura” sejam ligados a esse estado. Sentimo-nos loucos porque estamos mentindo para nós mesmos. Porque acreditamos nas mentiras de outras pessoas. Nada fará com que nos sintamos loucos mais depressa do que a mentira. Acreditar em mentiras desintegra o centro de nosso ser. Nossa parte mais profunda, instintiva, sabe a verdade, mas estamos empurrando-a para fora, dizendo:
“Você está errado. Cale-se.” De acordo com o terapeuta Scott Egleston, é então que, por suspeitarmos, decidimos que há algo fundamentalmente errado connosco e chamamos a nós mesmos, ao nosso ser interior intuitivo, de desconfiados.
Não negamos seja lá o que estivermos negando porque somos estúpidos, teimosos ou deficientes. Não estamos nem mesmo mentindo conscientemente para nós mesmos. Assim, explica o psicólogo Noel Larsen:
“Negação não é mentir; é não permitir a si mesmo saber qual é a realidade.”
A negação é o bicho-papão da vida. É como dormir. Não estamos conscientes de nossas ações até que as assumamos. Em algum nível realmente acreditamos nas mentiras que nós dizemos a nós mesmos. Também há uma razão para isso. “Em períodos de grande tensão trancamos nossa consciência emocionalmente, às vezes intelectualmente e de vez em quando fisicamente”, explica Claudia L. Jewett em Helping Children Cope with Separation and Loss [Ajudando crianças a lidar com separação e perda]. “Um mecanismo interno opera para filtrar informações devastadoras e para impedir que fiquemos
sobrecarregados. Os psicólogos dizem que a negação é uma defesa consciente ou inconsciente que todos nós usamos para negar, reduzir ou evitar ansiedade quando estamos ameaçados. Utilizamos isso para fechar nossa consciência a coisas que seriam perturbadoras demais para se saber.”9
A negação é o amortecedor da alma. É um instinto e uma reação natural à dor, à perda e à mudança. Ela nos protege. Guarda-nos dos reveses da vida até que possamos juntar nossos outros recursos para lidar com isso.
Continuação no próximo artigo.
Do livro: Codependência Nunca Mais, Pare de Controlar os Outros e Cuide de Você Mesmo, [recurso eletrônico] Melody Beattie, 5ª Edição, Viva Livros, 2017