Princípios básicos para cuidar de si mesmo
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OS DOZE PASSOS
Os Doze Passos são o coração dos programas de Doze Passos. Em seus formatos básicos (a seguir em itálico), os Passos pertencem a vários programas. Mas todos os programas os adaptaram dos Passos dos Alcoólicos Anônimos.
As interpretações depois do Passo são minhas opiniões pessoais e não são relacionadas, endossadas ou afiliadas a nenhum programa de Doze Passos. Os programas também têm Tradições, que guardam a pureza dos programas para assegurar que continuem a operar eficientemente. A Décima Primeira Tradição do programa do Al-Anon diz: “Nossa política de relações públicas é baseada em atração, em vez de promoção.”1 Por favor, compreendam que não estou promovendo este ou nenhum outro programa. Estou apenas dizendo o que penso, e acontece que tenho grande admiração pelos Doze Passos.
1. Admitimos que éramos impotentes perante o álcool – que tínhamos perdido o domínio sobre nossas vidas. Este é um Passo importante. Deve ser dado primeiro. Por isso, é o Primeiro Passo. Muito de nossa luta para aceitar seja lá o que devemos aceitar – o alcoolismo ou distúrbios alimentares de uma pessoa querida, por exemplo – nos leva a essa porta. Minha negação, minhas negociações, meus esforços para controlar, meu salvamento, minha raiva, minha dor, minha tristeza levaram-me a esse lugar. Não apenas uma vez, mas duas vezes em minha vida tentei fazer o impossível.
Tentei controlar o álcool. Havia me debatido contra o álcool em meu próprio vício de beber; decretei guerra de novo ao álcool quando a pessoa que eu amava estava usando e abusando dele. Em ambas as vezes eu perdi. Quando aprenderei a deixar de lutar contra ele? Em ambas as vezes, o álcool assumiu o controle sobre mim – uma vez diretamente, pelo meu próprio hábito; outra, indiretamente, pelo vício de outra pessoa. Entretanto, não importa como o álcool tenha conquistado o controle. Ele o fez. Meus pensamentos, minhas emoções, meus comportamentos – minha vida – eram controlados e dirigidos pelo álcool e por seus efeitos na vida de outra pessoa. As pessoas estavam me controlando, mas também estavam sendo controladas pelo álcool. Uma vez que a luz era acesa, não era difícil ver quem mandava.
Era a garrafa. Quando enxerguei isso, pude facilmente ver que minha vida se tornara inviável. De verdade. Espiritual, emocional, mental e fisicamente, eu estava sem controle. Meus relacionamentos eram inviáveis. Minha carreira era incontrolável. Não conseguia nem mesmo manter a casa limpa. Se esse Passo soa como uma entrega, é porque é. É aqui que nos entregamos à verdade. Somos impotentes perante o álcool. Somos impotentes com a doença do alcoolismo. Somos impotentes com a bebedeira de outra pessoa e os efeitos do alcoolismo na vida dele ou dela.
Somos impotentes com as pessoas – o que elas fazem, dizem, pensam, sentem ou fazem, não dizem, não pensam ou não sentem. Estamos tentando fazer o impossível. A essa altura, compreendemos isso e tomamos a decisão racional de deixar de tentar fazer o que jamais poderemos fazer, não importa o quanto tentarmos. A esse ponto, olhamos para nós mesmos – as formas como temos sido afetados, nossas características, as nossas dores. Parece desesperado e derrotista, mas não é. É a aceitação do que somos. Não podemos mudar as coisas que não podemos controlar, e tentar fazer isso nos leva à loucura.
Esse Passo é apropriadamente humilde. E é também a ponte para o Segundo Passo. Porque, admitindo a impotência sobre o que realmente tem poder sobre nós, recebemos o poder que é apropriadamente nosso – nosso próprio poder de mudar a nós mesmos e às nossas vidas. Quando deixamos de tentar fazer o impossível, nos permitimos fazer o possível.
2. Acreditamos que um poder superior a nós poderia devolver-nos à sanidade. Se o Primeiro Passo nos deixa desesperados, este Passo nos trará esperança. Nem por um minuto duvidei de que estava louca quando deixei de comparar-me com as pessoas loucas à minha volta. A maneira como estava vivendo era insana; a maneira como não estava vivendo minha vida era insana. Eu precisava acreditar que poderia ficar sã. Precisava acreditar que a dor que sentia podia ser de alguma forma diminuída. Ouvir, conversar, e realmente conhecer pessoas que tinham ficado tão descontroladas quanto eu, e ver que elas encontraram paz em circunstâncias às vezes piores do que a minha, ajudou-me a acreditar. Não há substituto para a visualização. Como alguém disse uma vez, ver é crer.
E sim, este é um programa espiritual. Graças a Deus, não estamos mais à mercê de nossos próprios artifícios. Este não é um programa faça-você mesmo. Faça você mesmo e assuma o risco. Somos seres espirituais. Precisamos de um programa espiritual. Este programa satisfaz as nossas necessidades espirituais. Não estamos falando de religião; a palavra que usei foi espiritual. Escolhemos e nos entregamos a um Poder maior do que nós mesmos.
3. Decidimos entregar nossa vontade e nossa vida aos cuidados de Deus, na forma em que O concebíamos. Eu tinha entregue minha vontade e minha vida aos cuidados do álcool e de outras drogas; depois aos cuidados de outros seres humanos (geralmente alcoólicos); e passei muitos anos tentando impor meu próprio plano no esquema das coisas. Era hora de tirar-me do controle de alguém ou de alguma coisa (inclusive o meu) e colocar-me nas mãos de um Deus extraordinariamente amoroso. “Tome tudo que sou, o que aconteceu comigo, para onde irei e como chegarei lá”, disse eu uma vez. E repito todos os dias. Às vezes, repito a cada meia hora.
Este Passo não significa resignarmo-nos a um punhado de deveria e poderia. Não implica uma continuação do martírio. O mais excitante sobre este Passo é que significa que há um propósito e um plano – um plano grande, perfeitamente maravilhoso, geralmente agradável, que leva em conta nossas necessidades, nossos desejos, nossas capacidades, nossos talentos e nossos sentimentos – para nossas vidas. Foi uma boa notícia para mim. Eu achava que eu era um erro. Não achava que houvesse nada de significativo planejado para minha vida. Ia apenas tropeçando por aí, tentando fazer o melhor de minha estada neste mundo, quando aprendi o seguinte: Estamos aqui para viver enquanto estivermos vivos, e há uma vida para cada um de nós.
4. Fizemos minucioso e destemido inventário moral de nós mesmos. Pegamos os olhos de outra pessoa e olhamos para nós mesmos. Enxergamos apenas aquilo em que estamos trabalhando, como temos sido afetados, o que estamos fazendo, quais são nossas características, e escrevemos num pedaço de papel o que vemos. Olhamos sem medo, não odiando a nós mesmos ou como uma autopunição, mas numa atitude de amor, honestidade e autoajuda. Podemos até descobrir que odiar a nós mesmos, não amar o bastante a nós mesmos, tem sido um verdadeiro problema moral.
Desencavamos qualquer outro problema, incluindo a culpa que ganhamos. Também procuramos nossas boas qualidades. Examinamos nossas dores e raivas. Examinamos a nós mesmos e o papel que desempenhamos em nossa vida. Este Passo também nos dá a oportunidade de examinar os padrões com que nos julgamos, escolher aqueles que acreditamos ser apropriados e desconsiderar o resto. Estamos agora a caminho de assumir nossa culpa merecida, de nos livrar de nossa culpa não merecida, de aceitar o pacote que chamamos nós mesmos, e de entrar no caminho do crescimento e da mudança.
5. Admitimos perante Deus, perante nós mesmos e perante outro ser humano a natureza exata de nossas falhas. A confissão faz bem à alma. Não há nada como uma confissão. Não temos de esconder mais nada. Contamos o pior que há em nós, nossos vergonhosos segredos a uma pessoa de confiança e capacitada a ouvir o Quinto Passo. Dizemos a alguém como estamos com raiva e feridos. Alguém ouve. Alguém se importa. Somos perdoados. Os ferimentos começam a sarar. Nos perdoamos. Este Passo é libertador.
6. Prontificamo-nos inteiramente a deixar que Deus remova todos esses defeitos de caráter. Descobrimos que algumas coisas que fazemos para nos proteger têm machucado a nós e possivelmente a outros. Decidimos que estamos dispostos a correr o risco e a libertar-nos desses comportamentos e atos antigos. Prontificamo-nos a mudar e a cooperar com o processo da mudança. Eu utilizo este e o próximo Passo como instrumentos diários para me livrar de quaisquer defeitos que despertam minha atenção. Considero minha autoestima baixa um defeito e utilizo este Passo para me corrigir.
7. Humildemente rogamos a Ele que nos livre de nossas imperfeições. Pela minha experiência, a humildade parece ser a chave aqui.
8. Fizemos uma relação de todas as pessoas que tínhamos prejudicado e nos dispusemos a reparar os danos causados. Aqui, disposição é a palavra importante, embora eu suspeite que esteja diretamente ligada à humildade. Não esqueçam de incluir a nós mesmos na lista. Note que – como escreveu Jael Greenleaf – “O Oitavo Passo não diz ‘fiz uma lista de todas as pessoas que tínhamos prejudicado e nos dispusemos a sentir-nos culpados.’2 Essa é nossa chance de tomar conta de nossa culpa merecida”. Este é um passo importante num instrumento que nos estará disponível pelo resto da vida para não precisarmos mais sentir culpa.
9. Fizemos reparações diretas dos danos causados a tais pessoas, sempre que possível, salvo quando fazê-lo significasse prejudicá-las ou a outrem. Este é um Passo simples num programa simples. Às vezes, as coisas mais simples nos ajudam a sentir-nos felizes.
10. Continuamos fazendo o inventário pessoal e, quando estávamos errados, nós o admitíamos prontamente. Avaliamos nosso comportamento contínua e regularmente. Descobrimos o que gostamos em nós mesmos e o que estamos fazendo de certo e de bom. Depois, ou nos congratulamos, ou nos sentimos bem, ou agradecemos a Deus; ou fazemos todas as três coisas. Descobrimos o que não gostamos e o que temos feito, depois descobrimos como aceitar e cuidar disso sem odiar a nós mesmos. Aqui está a parte difícil: se estivermos errados, dizemos isso. Se trabalharmos o Oitavo Passo e o Nono Passo e descarregarmos todos os sentimentos de culpa, saberemos quando precisarmos dizer “estou errado”, e “desculpe-me”. Sentiremos a culpa merecida, e nos sentiremos capazes de notar isso. Entretanto, se ainda estamos nos sentindo culpados o tempo todo, pode ser difícil distinguir quando fazemos algo errado, porque estamos nos sentindo culpados o tempo todo e não sentimos nada diferente. É apenas mais uma pá de culpa jogada na pilha já amontoada. A moral dessa história é: Descarregue a culpa. Se arranjar alguma, cuide dela imediatamente.
11. Procuramos, pela prece e a meditação, melhorar nosso contato consciente com Deus, na forma em que O concebíamos, rogando apenas o conhecimento de Sua vontade em relações a nós, e forças para realizar essa vontade. Este Passo, usado diretamente e quando necessário, nos levará, com sucesso, por toda nossa vida. Ele requer que aprendamos a diferença entre ruminação e meditação. Também requer que decidamos se acreditamos que Deus é benevolente. Precisamos decidir se acreditamos que Deus “sabe onde moramos”, como diz um amigo. Fique quieto. Desligue-se. Reze. Medite. Pergunte a Ele o que quer de nós. Peça forças para fazer isso. Depois veja o que acontece. Geralmente, Sua vontade é uma maneira de viver apropriadamente e com bom-senso. Às vezes, nos surpreendemos. Aprenda a confiar nesse Poder Superior a quem demos a guarda de nossa vida. Torne-se sensível a como Ele trabalha connosco. Aprenda a confiar em si mesmo. Ele
também trabalha por nós.
12. Tendo experimentado um despertar espiritual, graças a estes passos, procuramos transmitir esta mensagem a outros e praticar estes princípios em todas as nossas atividades Estaremos espiritualmente despertos. Aprendemos a tomar conta espiritualmente de nós mesmos – não religiosamente, embora certamente seja parte da vida. Este programa nos capacitará a amar a nós mesmos e a outras pessoas, em vez de salvarmos e sermos salvos. Transmitir a mensagem não significa que nos tornaremos missionários; significa que nossa vida se ilumina. Aprendemos a brilhar. Se aplicarmos este programa em todas as áreas de nossa vida, ele funcionará em todas elas.
Continuação no próximo artigo.
Do livro: Codependência Nunca Mais, Pare de Controlar os Outros e Cuide de Você Mesmo, [recurso eletrônico] Melody Beattie, 5ª Edição, Viva Livros, 2017