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Sinta suas próprias emoções

Princípios básicos para cuidar de si mesmo

Sinta suas próprias emoções

Outro problema com emoções reprimidas é que elas não vão embora. Elas ficam, às vezes se tornando cada vez mais fortes e nos levando a fazer muitas coisas estranhas. Temos de ficar um passo adiante das emoções, temos de ficar ocupados, temos de fazer alguma coisa. Não ousamos ficar quietos e em paz porque podemos sentir essas emoções. E a sensação pode esguichar de qualquer maneira, levando-nos a fazer o que nunca quisemos fazer: gritar com as crianças, chutar o gato, manchar nosso vestido favorito ou chorar numa festa. Ficamos presos às emoções porque estamos tentando reprimi-las e, como um vizinho persistente, elas não vão embora até reconhecermos sua presença.

A maior razão para não reprimirmos as emoções é que reprimi-las faz com que percamos nossas emoções positivas. Perdemos a capacidade de sentir. Às vezes, isso pode ser um alívio bem-vindo se a dor for muito grande ou muito constante, mas esse não é um bom plano de vida. Podemos rejeitar nossas necessidades mais profundas – a necessidade de amar e de sermos amados – quando reprimimos nossas emoções. Podemos perder nossa capacidade de desfrutar de sexo, de carinho. Perdemos a capacidade de nos sentirmos próximos às pessoas, o que é conhecido também como intimidade. Perdemos nossa capacidade de desfrutar das coisas agradáveis da vida.

Perdemos o contato com nós mesmos e com nosso ambiente. Não estamos mais em contato com nossos instintos. Tornamo-nos inconscientes do que nossas emoções estão nos dizendo e de quaisquer problemas em nosso ambiente. Perdemos o poder motivador das emoções. Se não estamos sentindo, provavelmente não examinamos o pensamento que acompanha isso, e não sabemos o que nossos eus estão nos dizendo. Se não lidarmos com nossas emoções, não mudamos nem crescemos. Ficamos estagnados.

As emoções podem não ser sempre um baú de alegrias, mas reprimi-las pode ser definitivamente uma desgraça. Então, qual é a solução? O que fazemos com essas incômodas emoções que podem ser tanto uma carga quanto uma delícia?

Nós as sentimos. Nós podemos senti-las. É certo sentir emoções. É certo ter emoções – todas elas. É certo até para homens senti-las. Emoções não são erradas. Não são impróprias. Não precisamos sentir-nos culpados por senti-las. Emoções não são atos; sentir raiva homicida é completamente diferente de cometer homicídios. As emoções não devem ser julgadas nem como boas nem como más. Emoções são energias emocionais; não são características de personalidade.

As pessoas dizem que existem centenas de emoções diferentes, indo da irritação à zanga, da exuberância ao encantamento etc. Alguns terapeutas resumem a lista a quatro emoções: raiva, tristeza, alegria e medo. Esses são os quatro grupos básicos de sensações, todo o resto são nuances e variações.

Por exemplo, sentir-se sozinho e “para baixo” pode cair na categoria de tristeza; ansiedade e nervosismo são variações do tema de medo; excitação e felicidade são qualificadas como alegria. Você pode chamar todas elas do que quiser; o importante é senti-las.

Isso não quer dizer que temos de estar sempre em guarda para uma emoção ou outra. Não significa que teremos de devotar uma extraordinária quantidade de tempo de nossa vida para chafurdar em sujeira emocional. Na verdade, lidar com nossas emoções significa que podemos cair fora da sujeira emocional. Significa que se uma emoção – energia emocional – aparece em nosso caminho, nós a sentimos. Pensamos por alguns momentos, reconhecemos a sensação e passamos para o próximo passo. Não censuramos. Não bloqueamos. Não fugimos dela. Não dizemos a nós mesmos: “Não sinta isso. Deve ter algo de errado comigo.” Não julgamos a nós mesmos por nossas emoções. Nós as sentimos. Permitimos que essa energia passe pelo nosso corpo e a aceitamos como sendo nossa energia emocional, nossa emoção. Dizemos: “Tudo bem.”

É então que precisamos daquela coisa mística a que muitas pessoas se referem como “lidar com nossas emoções”. Respondemos apropriadamente a ela. Examinamos os pensamentos que a acompanham e os aceitamos sem
repressão ou censura.4

Depois decidimos se devemos dar mais um passo. É aqui que fazemos nosso julgamento. É aqui que nosso código moral entra em jogo. Mas ainda não julgamos a nós mesmos por sentir a emoção. Decidimos o que queremos fazer a respeito dela e do pensamento que a acompanha, se é que queremos fazer algo. Avaliamos a situação e depois escolhemos uma linha de comportamento de acordo com nosso código moral e nosso novo ideal de autocuidado. Há algum problema que precisamos resolver? Nosso pensamento está equivocado? Podemos precisar corrigir certos padrões de pensamentos orientados ao desastre, como: “Sinto um medo e uma tristeza horríveis porque o carro quebrou; é o fim do mundo.” Seria mais certo pensar: “Estou aborrecido porque o carro quebrou.” O problema é algo que podemos resolver? Refere-se a outra pessoa? É necessário ou apropriado discutir a emoção com essa pessoa? Caso seja, quando será melhor fazer isso? Talvez seja suficiente apenas sentir a emoção e reconhecer o pensamento. Se estiver em dúvida sobre que atitude tomar, sobre se a emoção é particularmente errada ou se a atitude que decide tomar é radical, sugiro que espere um ou dois dias, até que esteja sossegado e sinta a mente clara. Em outras palavras: desligue-se.

Nossas emoções não precisam nos controlar. Só porque estamos com raiva, não temos de gritar e bater. Só porque estamos tristes ou deprimidos, não temos de ficar na cama o dia inteiro. Só porque estamos com medo, não significa que não devemos nos candidatar àquele emprego. Não estou de forma alguma dizendo ou sugerindo que permitamos que elas controlem nosso comportamento. Na verdade, o que estou dizendo é o oposto: se não sentimos nossas emoções e não lidamos com elas responsavelmente, elas nos controlarão. Para lidarmos com nossas emoções responsavelmente, nós as submetemos ao nosso intelecto, à nossa razão e aos nossos códigos de ética comportamental e moral.5

Responder apropriadamente às nossas emoções também significa que somos responsáveis por elas. Cada emoção de uma pessoa lhe pertence. Ninguém faz ninguém sentir; ninguém é definitivamente responsável por nossas emoções além de nós, não importa o quanto insistirmos que são. As pessoas podem ajudar-nos a sentir, mas elas não nos fazem sentir. E tampouco podem mudar a maneira com que nos sentimos. Somente nós podemos fazer isso. Além disso, não somos responsáveis pelas emoções de ninguém, embora sejamos responsáveis por decidir ter consideração pelas emoções das pessoas. Pessoas responsáveis preferem fazer isso, às vezes.

Entretanto, a maioria dos codependentes prefere fazer isso sempre. Precisamos ter consideração também com nossas emoções. Elas são reações às circunstâncias da vida. Portanto, a educação dita que, quando discutir uma emoção com alguém, você diga: “Sinto isso e aquilo quando você faz isso e aquilo, porque…” e não: “Você me faz sentir.”6

Podemos, no entanto, desejar tomar outra decisão sobre como lidar com nossas emoções. Isso é verdade principalmente se costumamos reagir ao comportamento de alguém com grande aflição emocional, e mesmo depois de falar à pessoa sobre nossa aflição ela continue a nos causar dor. Talvez não precisemos de tanta ajuda para sentir. Lembre-se, as emoções são indicadoras e motivadoras. Observe os padrões. Eles nos dizem muito sobre nós mesmos e nossos relacionamentos.

Às vezes, lidar com emoções significa que é preciso uma mudança de pensamento. Muitas terapias reconhecem uma correlação direta entre o que pensamos e o que sentimos.7 Existe uma conexão. O que pensamos influencia a forma como nos sentimos. Às vezes, padrões de pensamentos incorretos, exagerados ou impróprios provocam nossas emoções ou fazem com que elas permaneçam mais tempo do que o necessário. Se pensamos que algo é horrível, nunca vai melhorar e simplesmente não devia existir, nossas emoções serão intensas. Chamamos a isso de pensamentos desastrosos. Por isso, é importante, depois de sentirmos nossas emoções, examinarmos nosso pensamento. Coloque-o sob a luz. Se for inapropriado, então sabemos que temos de fazer algo para resolver nosso problema, não é verdade?

Há vezes em que podemos precisar discutir nossas emoções e pensamentos com outra pessoa. Não é saudável viver nossa vida em isolamento. Partilhar nosso lado emocional com outras pessoas cria proximidade e intimidade. Além disso, sermos aceitos por alguém por ser quem somos nos ajuda a aceitar a nós mesmos. É sempre uma experiência maravilhosa. Às vezes, podemos desejar dizer certas coisas a um amigo que apenas nos ouvirá, enquanto desabafamos e tentamos descobrir o que está acontecendo. As coisas que trancamos dentro de nós podem ficar grandes e poderosas demais. Soltá-las no ar faz com que fiquem menores. Ganhamos perspectiva. Também é sempre mais divertido compartilhar as sensações agradáveis: as alegrias, os sucessos, as pequenas satisfações. E, se queremos aprofundar uma relação com alguém, precisamos discutir nossas emoções persistentes com ele ou ela. É a chamada honestidade emocional.

Um aviso: as emoções de intensa felicidade podem ser tão perturbadoras e assustadoras quanto as emoções de intensa tristeza, principalmente para os codependentes que não estão acostumados a emoções felizes, de acordo com Scott Egleston. Muitos codependentes acham que as emoções felizes devem ser sempre acompanhadas de emoções tristes, porque era isso que costumava acontecer no passado. Alguns codependentes acreditam que não podemos, não devemos e não merecemos nos sentir felizes. Às vezes, fazem coisas para criar emoções tristes depois de sentirem emoções alegres, ou sempre que haja a possibilidade de que se sintam felizes.

Não é errado se sentir feliz. Não é errado se sentir triste. Deixe a energia emocional passar por você e procure a paz e o equilíbrio.

Há vezes em que precisamos de ajuda profissional para lidar com nossas emoções. Se estamos presos a alguma emoção em particular, devemos dar a nós mesmos o que precisamos. Procuremos um psicólogo, um terapeuta, um psicanalista ou um religioso. Tomemos conta de nós mesmos. Nós merecemos isso. Podemos também desejar procurar ajuda profissional se estamos reprimindo sensações por um longo período ou se suspeitamos que o que estamos reprimindo é intenso.

Às vezes é preciso apenas um pouco de prática e consciência para despertar nosso lado emocional. As seguintes atividades ajudam-me a entrar em contato com minhas emoções: o exercício físico, escrever cartas que não pretendo mandar, conversar com pessoas em quem confio e passar algum tempo quieta e meditando.

Precisamos fazer da conscientização de nós mesmos um hábito. Precisamos prestar atenção às nossas atitudes de “não
deveria me sentir assim”; precisamos prestar atenção ao nosso nível de conforto; precisamos ouvir o que pensamos e dizemos, e devemos estar atentos ao nosso tom de voz; precisamos observar o que estamos fazendo. Assim, encontraremos um caminho para nossas emoções e um modo de atravessá-las; um caminho que funcione para nós.

Precisamos convidar as emoções à nossa vida. E depois comprometer-nos a cuidar delas com carinho. Sentir nossas emoções. Confiar em nossas emoções e em nós mesmos. Somos mais sábios do que pensamos.

ATIVIDADE

  1. Leia seu diário. Que emoções saíram de mansinho ou jorraram enquanto você escrevia?
  2. Vamos jogar o jogo do “se”. E se você pudesse sentir qualquer coisa que quisesse neste exato momento, e se sentir isso não fizesse de você uma má pessoa. O que estaria sentindo? Escreva sobre isso.
  3. Procure alguém em quem confie, um bom ouvinte que queira ouvir e não corrigir, e comece a discutir honesta e abertamente suas emoções com essa pessoa. Ouça as emoções dessa pessoa sem julgamento ou propósito de tomar conta. É bom, não é? Se não conhecer alguém com quem se sinta seguro em fazer isso, entre para um grupo de apoio.

Do livro: Codependência Nunca Mais, Pare de Controlar os Outros e Cuide de Você Mesmo, [recurso eletrônico] Melody Beattie, 5ª Edição, Viva Livros, 2017

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