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Tenha um caso de amor consigo mesmo

Princípios básicos para cuidar de si mesmo

Tenha um caso de amor consigo mesmo


E, acima de tudo:
a ti próprio sê verdadeiro, e assim deverás prosseguir, como a noite o dia,
e não poderás, então, ser falso com mais ninguém.

– William Shakespeare


“Ame o próximo como a si mesmo.” O problema de muitos codependentes é exatamente esse. O que é pior, muitos de nós não sonharíamos amar ou tratar outras pessoas da forma que tratamos a nós mesmos. Não nos atreveríamos, e os outros provavelmente não nos permitiriam.
A maioria dos codependentes sofre dessa aflição vaga mas penetrante, a baixa autoestima. Não nos sentimos bem connosco, não gostamos de nós mesmos e não pensamos em amar a nós mesmos. Para alguns de nós, baixa autoestima é apelido; não apenas não gostamos de nós mesmos – nós nos detestamos!1

Não gostamos da nossa aparência. Não suportamos nosso físico. Achamo-nos estúpidos, incompetentes, sem talento e, em muitos casos, achamos que ninguém seria capaz de nos amar.2 Achamos nossos pensamentos errados e impróprios. Acreditamos que não somos importantes e, mesmo que nossos sentimentos não sejam errados, achamos que eles não importam. Estamos convencidos de que nossas necessidades não são importantes. E envergonhamos os desejos ou planos de mais alguém. Achamos que somos inferiores e diferentes do resto do mundo – não especiais, mas estranha e impropriamente diferentes.

Nunca chegamos a um acordo com nós mesmos, e nos enxergamos não através de cristais coloridos, mas de um filme embaçado. Podemos ter aprendido a esconder nossos verdadeiros sentimentos quanto a nós mesmos vestindo-nos e penteando nossos cabelos corretamente, vivendo na casa certa e trabalhando no emprego certo. Podemos gabar-nos de nossas realizações, mas sob tudo isso existe um calabouço onde secretamente nos punimos e torturamos sem parar. Às vezes podemos punir-nos abertamente, perante o mundo inteiro, dizendo coisas negativas sobre nós mesmos. Às vezes até convidamos outros para nos ajudar a nos odiar, como quando permitimos que certas pessoas ou costumes religiosos nos ajudem a nos sentir culpados, ou quando permitimos que nos maltratem. Mas nossas piores surras são levadas secretamente, dentro de nossas mentes.

Implicamos com nós mesmos sem parar, amontoando pilhas de “deveria” em nossa consciência e criando montanhas imprestáveis e fedorentas de culpa. Não confunda isso com a culpa verdadeira e autêntica, que motiva a mudança, ensina valiosas lições e nos permite um relacionamento mais próximo connosco com os outros e com nosso Poder Superior.

Constantemente nos colocamos em situações impossíveis, em que não temos escolha a não ser nos sentirmos mal com nós mesmos. Pensamos algo, depois nos dizemos que não devemos pensar assim. Sentimos algo, depois dizemos a nós mesmos que não devemos nos sentir assim. Tomamos uma decisão, depois achamos que não devíamos ter agido assim. Nessas situações não há nada a ser corrigido, nenhuma emenda a ser feita; não fizemos nada de errado. Estamos engajados numa forma de punição destinada a nos manter ansiosos, irritados e sufocados. Prendemos a nós mesmos numa armadilha.

Uma de minhas autotorturas favoritas é o dilema entre duas coisas que devo fazer. Primeiro, decido fazer uma delas. Assim que decido, penso “mas deveria estar fazendo a outra”. Então troco de marcha, começo a fazer a outra coisa e penso de novo: “Realmente não deveria estar fazendo isso. Deveria fazer o que estava fazendo antes.”

Outra favorita é essa: penteio meu cabelo, coloco a maquiagem, olho-me no espelho e penso: “Nossa, como estou estranha. Não deveria estar com essa cara.”

Alguns de nós achamos que cometemos tantos erros que não podemos nem de leve esperar que nos desculpem. Alguns de nós achamos que nossa vida é um equívoco. Muitos de nós achamos que tudo que fizemos foi um erro. Alguns de nós achamos que não conseguimos fazer nada certo, mas ao mesmo tempo exigimos perfeição de nós mesmos. Colocamo-nos em situações impossíveis, depois não entendemos por que não conseguimos sair delas.

Depois terminamos o trabalho envergonhando-nos. Não gostamos do que fazemos, não gostamos de quem somos. Fundamentalmente, não somos bons o bastante. Por alguma razão, Deus criou em nós uma pessoa totalmente imprópria para a vida.

Na codependência, como em muitas outras áreas da vida, tudo está ligado a tudo e uma coisa leva a outra. Nesse caso, nossa autoestima baixa frequentemente está bastante ligada a muito do que fazemos ou do que não fazemos, e isso conduz a muitos de nossos problemas.

Como codependentes, frequentemente nos detestamos tanto que achamos errado nos levar em consideração ou, em outras palavras, parecer egoístas. Colocarmo-nos em primeiro lugar é algo fora de questão. Geralmente achamos que só temos valor se fizermos alguma coisa para alguém ou se tomarmos conta, por isso nunca dizemos não. Alguém tão insignificante quanto nós deve fazer um esforço extra para que gostem de nós. Ninguém em seu juízo perfeito poderia gostar de nós e querer estar connosco. Achamos que temos de fazer algo pelas pessoas para conseguir e manter sua amizade.

Muito da defensiva que tenho visto em codependentes decorre não de acharmos que estamos acima da crítica, mas porque temos tão pouca autoestima que qualquer ameaça de ataque pode nos aniquilar. Sentimo-nos tão mal quanto a nós mesmos e temos tal necessidade de sermos perfeitos e evitar a vergonha, que não podemos permitir que ninguém nos diga que fizemos algo errado. Uma razão pela qual alguns de nós irritam e criticam outras pessoas é porque é isso que fazemos com nós mesmos.

Acredito, assim como Earnie Larsen e outros especialistas, que nossa autoestima baixa ou auto-ódio esteja ligado a todos os aspectos de nossa codependência: martírio, recusa de desfrutar a vida; workaholism, permanecendo tão ocupados que não conseguimos gozar a vida; perfeccionismo, não permitindo a nós mesmos aproveitar ou nos sentir bem com aquilo que fazemos; procrastinação, amontoando pilhas de culpa e incerteza em nós mesmos; evitar intimidade com as pessoas, tanto fugindo de relacionamentos como evitando compromisso ou permanecendo em relacionamentos destrutivos; iniciando relacionamentos com pessoas que não são boas para nós, e evitando pessoas que são boas para nós.

Podemos encontrar infindáveis meios de nos torturar; comer demais, negligenciar nossas necessidades, comparar-nos a outras pessoas, ficarmos obcecados, lidar com lembranças dolorosas ou imaginar futuras cenas dolorosas. Pensamos: e se ela, ou ele, voltar a beber? E se ela, ou ele, tiver um caso? E se uma tromba-d’água desabar em cima da casa? Essa atitude de “se” é sempre boa para uma forte dose de medo. Amedrontamos a nós mesmos, depois ficamos querendo descobrir por que sentimos medo.

Não gostamos de nós mesmos, e não vamos deixar que algo de bom nos aconteça porque achamos que não merecemos.
Como codependentes, temos a tendência de envolver-nos em relacionamentos totalmente antagônicos a nós mesmos.3 Alguns de nós aprendemos esse comportamento de auto-ódio em nossa família, talvez com a ajuda de um pai ou mãe alcoólicos. Alguns de nós reforçaram seu autodesprezo casando-se com um alcoólico depois de deixar um pai ou mãe alcoólicos.

Talvez nos tenhamos envolvido em relacionamentos adultos com uma frágil autoestima e depois descobrimos que o amor-próprio que nos restava desintegrou-se. Alguns de nós podem ter tido uma autoestima totalmente intacta até conhecer ele ou ela, ou até aparecer aquele problema; de repente, ou gradualmente, passamos a odiar a nós mesmos. Alcoolismo e outros distúrbios compulsivos destroem a autoestima dos alcoólicos e dos codependentes. Lembre-se, o alcoolismo e outros distúrbios compulsivos são autodestrutivos. Alguns de nós podemos nem mesmo estar conscientes de nossa autoestima baixa e do nosso auto-ódio porque passamos a vida comparando-nos a alcoólicos e a outras pessoas loucas em nossas vidas; em comparação, estamos lá em cima. A autoestima baixa pode penetrar em nós a qualquer momento em que o permitamos.

Na verdade, não importa quando começamos a nos torturar. Mas agora devemos parar. Agora podemos dar a nós mesmos um grande abraço emocional e mental. Somos pessoas boas. É maravilhoso ser quem somos. Nossos pensamentos são bons. Nossos sentimentos são apropriados. Estamos exatamente onde devemos estar, hoje, neste momento. Não há nada errado connosco. Não há nada fundamentalmente errado connosco. Se fizemos coisas erradas, tudo bem; agora estamos fazendo o melhor que podemos.

Em toda nossa codependência, com todos os nossos problemas de controlar e salvar, nossos variados defeitos de caráter, somos pessoas legais. Somos exatamente o que devemos ser. Falei um bocado sobre problemas e coisas que devemos mudar – são objetivos, coisas que faremos para melhorar nossa vida. Está certo ser quem somos neste exato momento. Na verdade, os codependentes são as pessoas mais carinhosas, generosas, de bom coração e preocupadas que conheço. Nós apenas permitimos a nós mesmos ser envolvidos em coisas que nos magoam; e agora vamos aprender como deixar de fazer isso. Mas essas coisas são nossos problemas; elas não nos definem. Se temos um defeito de caráter repulsivo, é dessa forma que odiamos e implicamos com nós mesmos. Isso simplesmente não é mais tolerável nem aceitável. Podemos parar de implicar connosco por ficarmos implicando connosco.4 Esse hábito também não é nossa culpa, mas é nossa responsabilidade aprender a deixar de fazer isso.

Continuação no próximo artigo.

Do livro: Codependência Nunca Mais, Pare de Controlar os Outros e Cuide de Você Mesmo, [recurso eletrônico] Melody Beattie, 5ª Edição, Viva Livros, 2017

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